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As trágicas estatísticas do emprego formal revelam que de cada 100 postos de trabalho gerados, 83 pagam até dois salário...

Publicado: 08 Dezembro, 2021 - 15h15

 

Ao caminhar pelas ruas, constato o aumento da quantidade de prédios com portas fechadas e, nelas, placas de “aluga-se” e “vende-se” ocupam o lugar do “temos vagas”. São pessoas que não conseguem arcar com o custo dos aluguéis, empresas destruídas pela recessão econômica, depois agravada pela pandemia de Covid-19 e a consequente crise sanitária causada pelas ações erráticas do governo federal. Gente que foi catapultada ao limbo econômico e social pela política econômica equivocada, pela incompetência de um presidente da República que negou a proteção à saúde tornando-se responsável por boa parte das mais de 600 mil vítimas fatais do Coronavírus. Já seu ministro Paulo Guedes acredita que a crise “limpa” a economia de empresas com baixa produtividade, eliminando-as. No caso do ministro, o seu negócio é fazer o dinheiro se multiplicar nos berços da preguiça produtiva que são os paraísos fiscais.

 

Bem longe do paraíso, atrás de cada porta fechada no Brasil, há trabalhadoras desempregadas, agoniadas com a fome dos filhos e com o despejo. Nos sindicatos, diariamente chegam trabalhadores desesperados com a falta de emprego, com a carestia, que nos procuram aflitos na esperança de encontrar um atalho que resolva o problema daquele dia, tensos e atentos a qualquer oportunidade que venha aliviar o fardo insuportável do desemprego.

 

As estatísticas do IBGE confirmam esse quadro aterrador: são mais de 31 milhões os trabalhadores que estão subutilizados, o que corresponde a 27,4% da força de trabalho. Esse contingente é a soma dos 13,7 milhões de desempregados, mais 7,7 milhões que têm jornada abaixo do que gostariam de trabalhar, outros 5,3 estão desalentadas pelo desemprego de longa duração e mais 4,4 milhões inativos que precisam de um emprego.

 

Os números oficiais ainda indicam que são 25,4 milhões os ocupados por conta própria, sendo 19,4 milhões na total informalidade, outros 4,2 milhões são trabalhadores domésticos e 10,8 milhões assalariados sem registro em carteira de trabalho. Quase 42 milhões que trabalham de forma precária e na informalidade, sem nenhuma proteção laboral, social ou previdenciária. É o aumento desse contingente que tem feito o desemprego diminuir.

 

O governo tem usado as estatísticas do registro administrativo do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) para comemorar uma falsa volta dos empregos. Há problemas nesses dados decorrentes de mudança metodológica e de coleta, dos impactos da pandemia nas empresas e da preservação dos empregos pelas políticas de proteção que propusemos e viabilizamos no Congresso, entre elas o auxílio emergencial, que foi extinto deixando mais de 20 milhões de brasileiros sem saber como sobreviverá. Infelizmente, os números anunciados pelo governo federal serão revistos a menor.

 

O mais trágico nas estatísticas do emprego formal é que de cada 100 postos de trabalho gerados, 83 pagam até dois salários mínimos, que incluem as formas legalizadas de precarização (contrato intermitente, jornada parcial, etc.).

 

E qual é a resposta que o governo federal nos reserva? Carestia. Conforme levantamento da ANP (Agência Nacional do Petróleo), de novembro, o preço da gasolina já encostava em R$ 8,00 (como em Bagé-RS e Niterói-RJ, cidades onde custa R$ 7,99), o botijão de gás chega a custar R$ 140,00 no interior do Brasil (caso de Sorriso-MT), a inflação na casa de dois dígitos; os juros pisando no freio da economia. O país passando vexame internacional e os agentes econômicos indicando nova recessão. O tsunami que o governo promove e alimenta é de grande dramaticidade com a destruição generalizada de empresas e empregos.

 

Não haverá futuro virtuoso sem uma mudança radical da política econômica que coloque o emprego de qualidade e o crescimento da renda do trabalho como eixos articuladores do desenvolvimento do País. Para isso, são necessárias coordenação governamental de investimentos robustos, públicos e privados, em infraestrutura econômica e social; o fortalecimento da educação, da pesquisa, da inovação que incrementa a produtividade; a promoção de políticas sociais bem-estruturadas e bem-articuladas, todas dimensões com forte impacto multiplicador do emprego e de incremento da demanda interna.

 

Nesse País onde os empregos vazam para os paraísos fiscais ou para o lucro dos bancos, que cresceram nesse ano 53%, a classe trabalhadora está em estado de choque com a destruição das atividades produtivas, que deixaram um cenário de guerra. Nossa tarefa é mudar o rumo e retomar caminhos que nos levem a empregos de qualidade, ao aumento dos salários e da demanda, das empresas produtivas, do fim da pobreza e da miséria, da diminuição das desigualdades.

 

 

 

Sérgio Nobre é presidente nacional da CUT – Central Única dos Trabalhadores