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Artigo

1º de Maio: a lista de mazelas é infinita, mas precisamos ‘esperançar’

Publicado: 03 Maio, 2021 - 16h48

 

 

Nesta sábado, chegaremos ao segundo 1º de Maio da pandemia, em mais um ano estranho e desafiador para o Brasil e o mundo, em que as prioridades tiveram que ser reorganizadas, porque a luta de muitos agora é pela sobrevivência. No Brasil, especialmente, nossa luta é pela vacina para todos, pela vida, pela ajuda humanitária àqueles que perderam seus empregos e sequer têm o que comer.

 

Isso posto, precisamos nos lembrar também de que a vida, apesar de tudo, deve seguir. Nós, do SindSaúde-SP, sabemos do quanto esse período tem sido especialmente difícil para você, trabalhadora e trabalhador da saúde pública de São Paulo, que ficou doente ou que viu seus colegas perderem a vida para a Covid. Só na base do Sindicato foram 70 óbitos, o que nos entristece muito.

 

Mas também sabemos que sua exaustão física e mental não é de agora. Há anos, você está cansado(a) de ser desvalorizado(a), de pagar o preço quando a situação das contas públicas não caminha bem e de ter os seus direitos infringidos pelo governo tucano que só pensa em destruir e privatizar o que é público.

 

Por isso, os lemas da Campanha Salarial 2021 são a valorização do(a) trabalhador(a) da saúde e a defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), porque entendemos ser esses os pilares do serviço público de saúde.

 

Somente um trabalhador forte e um SUS forte podem nos levar adiante em nossa luta diária por respeito, dignidade e melhores salários.

 

Golpes no(a) trabalhador(a)

 

Mas precisamos falar também do que perdemos e estamos perdendo para que fiquemos alertas. Não podemos nos esquecer de que o governo estadual - que hoje tenta surfar na onda do trabalho do funcionalismo público por conta da vacina Coronavac, do Instituto Butantan - vem desferindo vários golpes nos direitos dos(as) trabalhadores(as).

 

No ano passado, tivemos a reforma da previdência, que instituiu o desconto nos salários dos aposentados, para que eles paguem pelo suposto déficit nas contas públicas gerado na pandemia. O SindSaúde-SP acionou a Justiça contra o desconto, mas, infelizmente, o tempo dela não é o nosso.

 

Além disso, a administração estadual também instituiu a Lei 17.293 (antigo Projeto de Lei 529), que extinguiu a Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), deixando os(as) trabalhadores(as) praticamente abandonados(as), e aumentou as alíquotas de contribuição do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe). Dois golpes baixos no funcionalismo público.

 

Ao longo da pandemia, enfrentamos ainda um grave problema de falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), e o SindSaúde-SP precisou entrar no Ministério Público do Trabalho (MPT) para que fossem fornecidos. Um direito básico, muito básico, mas que tivemos de recorrer ao MPT para obtê-lo.

 

Fora isso, há o desmonte de hospitais, como os problemas registrados no Complexo Hospitalar de Heliópolis, com 112 leitos parados enquanto pacientes precisavam deles; a tentativa de vender o terreno do Hospital Infantil Darcy Vargas, que só não foi para a frente porque trabalhadores e sociedade se mobilizaram; além da falta de concursos públicos, salário digno, respeito e uma lista infinita de mazelas, as quais só nós, que estamos no dia a dia dos equipamentos públicos do estado, sabemos.

 

Governo federal

 

Também não podemos nos esquecer das maldades impingidas pelo governo federal. A falta de comando, as omissões e - por que não dizer? - muitas decisões propositadamente tomadas, que atrasaram a vacinação no Brasil, fazendo com que chegássemos à triste marca de mais de 400 mil mortes. Por essa razão, o capitão que comanda o país está sendo acusado de crime de genocídio em tribunais internacionais.

Não podemos nos esquecer também da reforma administrativa, que tramita no Congresso Nacional, e que representará outro duro golpe no(a) trabalhador(a) do serviço público e contra a qual o SindSaúde-SP tem se posicionado com todas as forças.

 

Estamos bastante apreensivos sobre o que pode vir desse projeto draconiano, que promete sugar as nossas energias, pois o que o governo federal pensa sobre nós já sabemos: que somos “parasitas e vagabundos”. Esta frase foi dita por um ministro, que, com ela, pretendeu incitar a população contra os trabalhadores do serviço público, como se a maioria de nós recebesse altos salários, quando é exatamente o contrário.

 

Esperança

 

Infelizmente, minha querida trabalhadora e meu querido trabalhador da saúde, tive que listar algumas de nossas mazelas, pois só a consciência do estado de coisas pode nos dar uma injeção de ânimo. Afinal, precisamos ‘esperançar’ de que dias melhores virão. E a esperança vem por meio da luta diária.

 

Cremos na vacina e esperamos que toda a população brasileira possa estar vacinada ainda este ano. Precisamos acreditar nisso para que possamos ver luz em nosso horizonte.

 

Há muitos desafios que precisam ser encarados e o SindSaúde-SP está aqui para ir para o front por vocês. Mas precisamos muito que vocês participem de nossas lutas, ao nosso lado, para que possamos nos fortalecer.

 

Neste 1º de Maio, quero deixar-lhe uma mensagem como reflexão. Há um provérbio africano que diz: “O rio enche-se graças aos pequenos riachos”. Ou seja, nossa jornada é feita de pequenas batalhas e vitórias diárias e, para que o que almejamos – o rio – aconteça, precisamos da sua força.

 

 

Afinal, juntos somos mais fortes!

 

 

 

 

Cleonice Ribeiro , presidenta do SindSaúde-SP - Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo