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Artigo

Ninguém “je suis” Somália

Publicado: 26 Outubro, 2017 - 16h01

 

No sábado, 13 de outubro, houve um atentado terrorista na Somália que deixou mais de 300 seres humanos mortos no maior ataque que o país já enfrentou, porém, apesar da gravidade, não houve destaque em nenhum noticiário. O que vimos foi um silêncio ensurdecedor por parte da mídia e das Nações.


Esse silêncio trouxe à tona uma questão fundamental, vidas negras importam ou a comoção é seletiva? A verdade é que dentro da lógica racista vidas negras não importam.

Em 2015 algo muito semelhante aconteceu. O ataque ao Charlie Hebdo, em Paris, em 7 janeiro, deixou 17 mortos, foi capa dos principais jornais e a hashtag #jesuisCharlie circulou pelo mundo. No mesmo dia, houve um ataque na Nigéria que deixou 111 mortos, mas ganhou apenas uma pequena nota nos jornais.


Agora no ataque a Somália as únicas menções à hashtag #PrayForSomalia apareceram somente com a reclamação da falta de destaque do assunto na mídia.


O racismo é tão bem orquestrado que decide inclusive com quais eventos devemos nos comover. A lógica é tão perversa que enxerga a África como um país e não um continente e mostra os seus habitantes como pessoas acostumadas ao sofrimento, às guerras, disputas e mortes, como se a dor fosse algo natural e cotidiano. 


Esse tipo de construção das notícias é inaceitável. Onde estão as capas dos principais jornais destacando a violação de direitos humanos quando são trezentas pessoas foram mortas em um único dia?


A CUT não compactua com esse silêncio, exercendo seu papel de questionar o status quo. É nosso papel denunciar todas as formas que o racismo opera, principalmente quando ele condiciona a pessoas a pensarem que os negros são menos humanos ou sentem menos dor. Precisamos falar, questionar e denunciar sempre o racismo, principalmente quando ele tenta escalonar o sofrimento.


Somos fortes somos CUT! Basta de Racismo no Trabalho e na Vida!


Somos todos Somália!


Vidas negras importam!

 

 


 

Maria Julia Nogueira & Rosana Sousa, secretária e secretária Adjunta

da CUT de Combate ao Racismo