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03/04/2012
Tempos atrás o Museu Americano de História Natural fez uma consulta entre biólogos perguntando se eles acreditavam que estávamos no meio de uma extinção em massa. 70% responderam positivamente que sim. O renomado cosmólogo Brian Swimme, autor junto com Thomas Berry de uma das mais brilhantes narrativas da história do Universo (The Universe Story,1992) foi perguntado o que poderíamos fazer, respondeu:”O universo já vem, há tempos, fazendo a sua parte para deter o desastre; mas nós temos que fazer a nossa. E o faremos mediante o despertar de uma nova consciência cosmológica, vale dizer, se ajustarmos nossas condutas à lógica do Universo. Mas não estamos fazendo o suficiente”.
Que quer dizer esta resposta? Ela acena para uma nova consciência que assume a responsabilidade coletiva com referência à proteção de nossa Casa Comum e à salvaguarda de nossa civilização. E ajustar nossas condutas à lógica do Universo significa responder aos apelos que nos vem do assim chamado "princípio cosmogênico”. Este é o que estrutura a expansão e a autocriação do universo com todos os seus seres inertes e vivos. Ele se manifesta por três características: a diferenciação/complexificação; a subjetividade/interiorização; e a interdependência/comunhão.
Em palavras mais simples: quanto mais o universo se expande, mais se complexifica: quanto mais se complexifica mais ganha interiorização e a subjetividade (cada ser tem seu modo próprio de se relacionar e fazer a sua história) e quanto mais ganha interiorização e subjetividade mais os seres todos entram em comunhão entre si e reforçam sua interdependência no quadro de um pertencimento a um grande Todo. Comentam Berry/Swimme: "Se não tivesse havido complexidade (diferenciação), o universo ter-se-ia fundido numa massa homogênea; se não tivesse havido subjetividade, o universo ter-se-ia tornado uma extensão inerte e morta: se não tivesse havido comunhão, o universo ter-se-ia transformado num número de eventos isolados”.
Nós teólogos da libertação, em quarenta anos de reflexão, temos tentado explorar as dimensões econômicas, sociais, antropológicas e espirituais da libertação como resposta às opressões específicas. No contexto da crise ecológica generalizada, estamos tentando incorporar esta visão cosmológica. Esta nos obrigou a quebrar o paradigma convencional com o qual organizávamos nossas reflexões, ligadas ainda à cosmologia mecanicista e estática. A nova cosmologia vê diferentemente o universo, como um processo incomensurável de evolução/expansão/criação, envolvendo tudo o que se passa em seu interior, também a consciência e sociedade.
Em termos do princípio cosmológico, libertação pessoal significa: libertar-se de amarras para sentir-se em comunhão com todos os seres e com o universo, fenômeno que os budistas chamam de "iluminação” (satori), uma experiência de não-dualidade e que São Francisco viveu no sentido de uma irmandade aberta com todos os seres. Em termos sociais, a libertação, à luz do princípio cosmogênico é: a criação de uma sociedade sem opressões onde as diversidades são valorizadas e expandidas (de gênero, de culturas e caminhos espirituais). Isso implica deixar para trás a monocultura do pensamento único na política, na economia e na teologia oficial. Este é o principal fator de opressão e de homogeneização.
A libertação requer também um aprofundamento da interioridade. Esta já não se satisfaz com o mero consumo de bens materiais; pede valores ligados à criatividade, às artes, à meditação e à comunhão com a Mãe Terra e com o Universo. A libertação resulta do reforço da "matriz relacional” especialmente com aqueles que sofrem injustiças e são excluídos. Esta matriz nos faz sentir membros da comunidade de vida e filhos e filhas da Mãe Terra que através de nós sente, ama, cuida e se preocupa pelo futuro comum.
Por fim, a libertação na perspectiva cosmogênica demanda uma nova consciência de interdependência e de responsabilidade universal. Somos chamados a reinventar nossa espécie, como o fizemos no passado nas várias crises pelas quais a humanidade passou. Agora ela é urgente porque não temos muito tempo e devemos estar à altura dos desafios da atual crise da Terra.
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