MENU

Artigo

E a Vida os e-levou

Publicado: 01 Dezembro, 2011 - 14h43

Laila amarra a fita preta em meu braço. Faço o mesmo com relação a ela. E os mais de 200 presentes da Assembléia Legislativa do Mato Grosso do Sul fazem o mesmo gesto de compromisso com a vida e a justiça, contra a violência, pela terra e pela paz, em luto pelo covarde assassinato do cacique Nisio Gomes Kaiowá-Gurani, do Guaiviry e o roubo e ocultamento de seu corpo. Dentre os presentes estava Egidio Brunetto, que três dias depois teria sua vida tragicamente ceifada. Ao dar-lhe um abraço, ele foi logo perguntando "Está tudo certo! Segunda-feira estarei lá na região da fronteira”.

Hoje Egidio está retornando à fronteira conquistada, chão em que foi assentado, e onde agora será plantado para se tornar semente e força na luta pela terra e a justiça, para sempre. Eterna fronteira, onde sua imagem e exemplo florescerão, e os frutos da terra alimentarão de pão e esperança todos os lutadores da solidariedade e da Vida, de uma nova sociedade.

Já na outra fronteira, com o Paraguai, a marcha indígena contra o genocídio Guarani-Kaiowá, da qual Egidio queria participar, está acontecendo, agora com a força da memória de todos os lutadores, e em especial de Nisio e Egidio, que a vida levou para outra dimensão de futuro. Fui me despedir de Egidio na sede do MST. As bandeiras da Via Campesina e do MST envolvia o caixão. Já de Nisio, a despedida terá que ser silenciosa, distante, na memória e lembrança bonita de seu sorriso e sua luta, pois seu corpo ainda não foi localizado.

Oeste de Santa Catarina. No início da década de 80 um rapaz inconformado com opressão no campo, nos estertores da ditadura militar, se juntou aos lutadores da Comissão Pastoral da Terra – CPT. Tinham todo apoio de Dom José, então presidente do Cimi, e depois da CPT. Ali mesmo, em Xanxerê, no porão da casa Paroquial, funcionava a sede do Cimi regional Sul. Dos "porões da liberdade” e da corajosa audácia da luta pela terra, reforma agrária, demarcação das terras indígenas, surgiu uma das mais belas e profícuas paginas da luta pela vida e justiça na terra.

O cacique Nisio Gomes e seu filho Valmir, no Acampamento Terra Livre 2006O cacique Nisio Gomes e seu filho Valmir, no Acampamento Terra Livre 2006

Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, estão hoje unidos na luta pela vida, contra o genocídio e o " ogrobanditismo”, como diz o geógrafo Ariovaldo Umbelino de Oliveira, ao se referir ao agronegócio, que semeia a opressão, destruição e morte. Enquanto na fronteira com a Argentina, em Dionisio Cerqueira Egidio é "plantado”, como dizem nossos companheiros(as) Xukuru de Ororubá, os Kaiowá-Guarani e seus aliados estão marchando entre os municípios de Amambai e Aral Moreira, na fronteira com o Paraguai. Estarão exigindo fim das violências, dos assassinatos, do genocídio. Pedem a paz, exigem apuração e punição aos assassinos que mataram Nisio e tantas outras lideranças. Irão ficar vigilantes até que seja localizado o corpo de Nisio.

Os dois estados em que o agronegócio e seus políticos são mais organizados e combativos contra os direitos indígenas à terra estarão unidos na mobilização pela vida e pela justiça. As vidas, lutas e exemplos de Nisio e Egidio certamente não serão em vão. Multidões erguerão suas Memórias na luta, bradando contra a guerra secular e a ignomínia da estrutura fundiária nas mãos do latifúncia, do agronegócio, que tem a terra como objeto de negócio e ambição!

Povo Guarani Grande Povo

Cimi 40 anos, equipe Dourados, 30 de novembro 2011.

Foto - O cacique Nisio Gomes e seu filho Valmir, no Acampamento Terra Livre 2006


A Marcha continua