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ZIGMUNT BAUMAN E OS 21 ANOS DA TESE 10
Zigmunt Bauman e os 21 Anos da Tese 10
16/09/2009
Jacy Afonso
Em setembro de 1988, acontecia o 3º Congresso da CUT, talvez o momento mais rico de debate e elaboração sobre a CUT e sua estratégia nestes 26 anos. Naquele momento, a CUT se consolidava como Central Sindical e discutia seu modelo organizativo a partir dos princípios que a constituíam e da conjuntura em que estava inserida, movimento que deve ser uma constante em uma Central que se propõe o desafio de organizar a classe trabalhadora brasileira tendo em vista a construção de uma sociedade socialista.
21 anos se passaram, o mundo mudou, o Brasil mudou: a ditadura militar acabou; o Muro de Berlim caiu; países do leste europeu hoje fazem parte da Comunidade Européia e o Partido dos Trabalhadores fez um presidente no Brasil. E para a CUT, quais os desafios que se apresentam diante destas mudanças?
Para o sociólogo polonês, Zigmunt Bauman, "a idéia do progresso foi transferida da idéia de melhoria partilhada para a de sobrevivência do indivíduo". Através desta afirmação, aparentemente de pouco impacto, Bauman nos apresenta uma verdade crucial que deve ser enfrentada se quisermos promover mudanças estruturais na sociedade: se antigamente pensar o progresso significava pensar uma nova sociedade, um país com liberdade, direitos e inclusão social, hoje significa uma conquista individual. A estratégia utilizada para transformar esta idéia em um conceito socialmente assimilado e provocar mudanças profundas de valores e de comportamento: a manipulação do desejo. A Psicanálise há muito já explicitou que o Homem é um ser "desejante", porém, a grande mentira que virou a mais poderosa arma da sociedade capitalista é que o desejo humano pode ser traduzido em objetos de consumo e que a satisfação individual deste desejo significa realização e progresso.
Voltando para a CUT, em que a reflexão de Bauman nos diz respeito? Entre outras coisas, na medida em que também nós, sindicalistas, estamos sujeitos à manipulação do sistema capitalista, também entre nós, o progresso muitas vezes deixa de ser a busca de melhorias para a coletividade para se transformar em uma conquista individual. Não quero aqui propor nenhuma forma de patrulhamento da conduta individual, ao contrário, quero retomar e reforçar a idéia da coletividade. Não se trata aqui de dessecar o desejo do sujeito dirigente sindical, mas sim de termos clareza de que as técnicas de manipulação do sistema capitalista atuam na motivação do ser humano para a ação, contaminando-a na sua origem, e não devemos nos considerar imunes a elas, pelo contrário, é imprescindível estarmos vigilantes.
Em 1988, a CUT possuía um coletivo que se debruçava sobre a necessidade de elaborar um modelo de organizativo e uma estratégia para orientá-la na organização da classe trabalhadora e nas disputas sociais e políticas que estavam em cena naquele momento, dirigentes como José Olívio e tantos outros companheiros e companheiras estavam à frente desta tarefa. Desta reflexão coletiva nasceu a tese 10, velha conhecida de todos nós.
Estamos diante de um novo cenário sindical e político e novas disputas estão diante de nós exigindo respostas rápidas, um erro nosso poderá custar muito caro à classe trabalhadora brasileira e, 21 anos depois, a nova Direção da CUT tem a responsabilidade de atualizar seu modelo organizativo. O que nos falta para produzirmos a tese 11? Trago comigo muitas questões a esse respeito que, por usos e costumes, ouso partilhar com meus pares, mas uma, tenho certeza, é consenso entre nós: só coletivamente acharemos as respostas. Cabe a nós, membros da Executiva e da Direção Nacional da CUT, produzir urgentemente propostas de mudança na nossa organização sindical, caso contrário, correremos o risco de fazer jus à lógica do capitalismo em prejuízo do interesse coletivo.
Secretário nacional de Organização e Política Sindical