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O ELEFANTE BRANCO DO PRECONCEITO
O elefante branco do preconceito
04/09/2009
Escrito por Lucilene Binsfeld é presidente da Contracs
A edição de junho de 2009 da revista de bordo da TAM traz na capa o jogador Robinho, ícone do futebol brasileiro que brilha lá fora. Filho de uma doméstica da Baixada Santista. Na mesma revista, a jornalista Sonia Racy publica um artigo tratando as domésticas como elefantes brancos - termo pejorativo que está associado a peso, coisas sem serventia, utilidade ou importância.
Elefante branco mesmo é o preconceito que ainda perpetua quando tratamos destas trabalhadoras. No Brasil, a luta por direitos desta classe trabalhadora já tem 73 anos e já perpetrou alguns avanços. Mas ainda não é o suficiente. A luta contra o preconceito continua.
Em 2003, as domésticas já representavam seis milhões de trabalhadores assalariados, sendo que 95% são mulheres. 76% recebiam até um salário mínimo e somente 23% possuíam carteira assinada.
O trabalho doméstico existe desde a época colonial e imperial quando as escravas faziam o serviço de casa. Com a lei Áurea, as chances deste trabalho ser remunerado aumentaram, mas ele continuou sendo executado pelas negras e índias. Motivo pelo qual a discriminação de raça e gênero é muito forte na categoria.
Encontros, reuniões, debates, a indignação e a vontade de mudar essa realidade fomentou a organização dessas trabalhadoras.
Na constituição de 1988, tivemos várias conquistas, mas direitos conquistados para os trabalhadores alguns ainda não são garantidos a estas trabalhadoras que dão duro na casa dos outros enquanto suas casas ficam à mercê, cuidam dos filhos dos outros enquanto não tem com quem deixar os seus.
Trabalho é igual para todos, mas direitos ainda não. Afinal, tarefas executadas por médicos, engenheiros, jornalistas e advogados parecem ser mais importantes e valiosas que as tarefas executadas por domésticas, vendedores, prestadores de serviço ou porteiros.
E enquanto o elefante branco da discriminação estiver atrelado ao pensamento de formadores de opinião, como a jornalista Sonia Racy, encontraremos artigos como o já citado. As trabalhadoras são lutadoras e não desistem de reivindicar seus direitos, sentem orgulho da profissão que exercem e merecem respeito e valorização. Elas - e nós da Contracs - lutamos para que o elefante branco da discriminação seja extinto da civilização.
A Contracs é a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Comércio e Serviços da CUT e luta pelos direitos destes trabalhadores assim como abole qualquer forma de discriminação e racismo.