Escrito por Isaías Dalle, Leonardo Severo e Luiz Carvalho
Na manhã desta sexta-feira (28), a Central Única dos Trabalhadores comemorou 26 anos de luta da mesma forma que construiu sua história: com mobilização.
Cerca de duas mil pessoas partiram da região do Brás, na zona leste de São Paulo, onde fica a sede da CUT, e caminharam até a Praça Ramos, no centro histórico da capital paulista.
Saudados durante toda a passeata por moradores e pedestres, os manifestantes carregavam bandeiras e cartazes onde apontavam as principais reivindicações dos trabalhadores, como a redução da jornada sem redução de salários, o fim do fator previdenciário, a queda da taxa de juros e a defesa do pré-sal e da Petrobrás. Ao passar pelos prédios da região central, a carreata que pintou as ruas de São Paulo de vermelho, foi recebida por uma chuva de papéis picados. Ao longo do trajeto, dirigentes da CUT Nacional, da CUT São Paulo e das principais categorias se revezaram no microfone do caminhão de som.
Em frente à Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, local caracterizado como "covil do tucanato" pelo secretário de finanças da CUT, Vagner Freitas, os manifestantes agitaram bandeiras e levantaram faixas pela ratificação da Convenção 151 da OIT, que estabelece a negociação coletiva no serviço público. Vagner denunciou que o governo Serra mantém uma política de intransigência e arrocho salarial, que vai na contramão da valorização dos serviços e dos servidores, atentando contra os interesses da população.
O secretário geral da CUT Nacional, Quintino Severo, destacou o papel protagonista "de organização, mobilização e conquista" da Central, que honra com luta nas ruas e nos locais de trabalho a trajetória de militantes que deram as suas vidas, fazendo da Central a maior do país e a quinta maior do mundo.
O secretário de Políticas Sociais da CUT Nacional, Expedito Solaney, resgatou a importância da luta pela implantação do Piso Nacional da Educação e a defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), como políticas públicas fundamentais de inclusão e justiça social.
Conforme a secretária nacional de Comunicação da CUT, Rosane Bertotti, ao unir trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade, do setor público e privado, jovens e idosos, a Central potencializa a ação coletiva, ampliando a pressão por um projeto de desenvolvimento Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, destacou a importância da melhoria dos salários para o desenvolvimento do Brasil. "O crescimento nacional deve muito ao fortalecimento do poder de compra dos trabalhadores. O aumento dos salários impacta na elevação do consumo, das vendas e da produção", disse.
O presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sintapi-CUT), Luizão Epaminondas, ressaltou em sua fala, na rua São Banto, que a atuação recente da Central em defesa da valorização das aposentadorias começa a reverter um processo de perda do poder de compra. "Muitas vezes as mudanças exigem muito tempo. Por isso, só uma entidade que se mantém coerente consegue visualizar o objetivo e alcançar".
A secretaria geral do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira Leite, lembrou que, como a CUT, a categoria bancária aniversaria no dia 28, "lutando pela redução dos juros, das tarifas e do spread, para que o trabalhador não continue sendo penalizado pela postura do sistema financeiro". Além da luta corporativa das nossas categorias, acrescentou o presidente do Sindicato, Luiz Cláudio Marcolino, estamos juntos nas ruas defendendo uma política de desenvolvimento para o Brasil, com menos especulação e mais crédito para a produção.
Sobre o Viaduto do Chá, guardas civis metropolitanos em greve contra o sucateamento da categoria promovido pelo prefeito Gilberto Kassab, se juntaram ao ato. Diante da sede do gabinete de Kassab, o presidente da CUT-SP, Adi dos Santos Lima, destacou a dificuldade do governo paulistano em agir de forma democrática e ouvir os trabalhadores da segurança pública. "Foi graças à aversão do prefeito ao diálogo que a GCM entrou em greve há uma semana. Nossos companheiros entregaram uma pauta ao poder público no início de abril e até agora não obtiveram qualquer resposta. Em nome dos trabalhadores da CUT, quero dizer que apoiamos a greve e não vamos abrir mão da negociação coletiva", afirmou.
Representantes de sindicatos em campanhas salariais também integraram a manifestação e apontaram os principais pontos defendidos pelas categorias.
Presidente da Confederação Nacional do Ramo Químico, Geraldo Melhorine Filho, destacou que "a partir do dia 1º de setembro, nenhum trabalhador do ramo farmacêutico deverá trabalhar mais de 40 horas semanais. Essa é uma conquista que queremos ampliar para outros setores". "Temos que reduzir a jornada sem reduzir salários para podermos qualificar nossos companheiros, gerarmos emprego e principalmente, oferecermos mais qualidade de vida às pessoas", destacou.
No ato de encerramento, o deputado federal e ex-presidente nacional da CUT, Vicente Paulo da Silva (PT-SP), lembrou das duras condições em que foi fundada a Central, na tensão dos preparativos pelo conflito com a ditadura militar, no frio que fazia em São Bernardo do Campo, na coleta solidária de roupas nas fábricas do ABC para vestir delegados e delegadas do Nordeste, e da determinação em "não ceder um milímetro na construção de uma central de base, democrática e comprometida com uma nova sociedade". Nesta semana, relatou Vicentinho, "vi com o coração batendo de alegria a presença da CUT no Congresso Nacional, com o companheiro Artur comandando o movimento sindical brasileiro na luta pela redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais". De acordo com Vicentinho, é com compromisso militante com a classe e com o Brasil que a Central se renova, enfrentando a ira da direita e sua mídia, "como a Globo e a Veja, que não engolem os avanços de um governo presidido por um operário", que são contra a soberania nacional, a Petrobrás e o controle social sobre o pré-sal.
Artur comanda a mobilização
Ao concluir o ato, o presidente nacional Artur Henrique reafirmou que a história da classe trabalhadora não poderia ser compreendida em toda sua extensão sem passar pela história da CUT, "o maior e mais poderoso instrumento de luta e de organização dos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil". No período da manhã, em resposta a pergunta de um dos jornalistas presentes a encontro da imprensa com a Executiva Nacional, Artur já havia dito que a representatividade da CUT se mede não apenas pelo número de entidades, mas muito mais especialmente pelo número de associados voluntariamente a sindicatos cutistas. "Somos mais de 7 milhões. De todos os trabalhadores que são filiados a alguma central, nós temos 39%. Pra se ter uma ideia, a segunda colocada tem só 11%".
Artur atacou duramente as políticas neoliberais em curso no Estado de São Paulo, onde "o Serra vendeu o último banco público, continua diminuindo a estrutura dos serviços à população e, com a ajuda do prefeito Kassab, faz uma dobradinha de salários achatados para o funcionalismo". Por outro lado, o presidente da CUT destacou o esforço do movimento sindical, e da CUT em especial, para construir um sólido aumento real para as aposentadorias acima de um salário mínimo já em 2010 e 2011 e novas regras para as futuras aposentadorias, que devem elevar os benefícios em até 39%. "Nos firmamos cada vez mais como os representantes dos interesses gerais da classe, isso é um fato, mas também devemos lembrar que o ambiente para o diálogo e a negociação com o governo federal são os melhores na história republicana", afirmou. E avisou: "No ano que vem a nossa Plataforma da Classe Trabalhadora para as Eleições 2010 estará nas ruas, e com ela vamos disputar os projetos políticos do País".
Ao final do ato político, por voltas das 13h15, foram soltas bexigas vermelhas que cobriram o espaço entre o Teatro Municipal e o prédio do antigo Mappin, na Praça Ramos de Azevedo.