CNTSS > LISTAR NOTÍCIAS > DESTAQUE CENTRAL > TRABALHADORES DE BETIM SE UNEM CONTRA ATAQUES DE SERVIDOR NAS REDES SOCIAIS
13/12/2017
Contra um bombardeio de ameaças e xingamentos a um trabalhador da Zoonoses de Betim promovido nas redes sociais, servidores(as) se uniram e saíram às ruas da cidade em manifestação na segunda-feira (04/12). O ato em defesa ao colega é uma reação à enxurrada de injúrias que o trabalhador sofreu nos últimos dias com informações manipuladas que questionava a sua atuação em uma abordagem a um cachorro abandonado na rua. As fotos dele capturando o cão dentro dos procedimentos legais foram compartilhadas indevidamente e o ato vinculado injustamente a maus tratos teve uma repercussão desastrosa. A manifestação seguiu da Praça da Brasiléia até a prefeitura, onde uma comissão de trabalhadores(as) conseguiu ser atendida pela gestão.
Além da solidariedade ao colega, os servidores(as) alegam que o desconhecimento de parte da população sobre o serviço prestado da zoonoses leva a atitudes desrespeitosas com o servidor que está na ponta do atendimento. “Nosso trabalho é de saúde pública, somos responsáveis pelo controle de doenças que tenham contato com animais. Muita gente confunde a zoonoses como um lugar de acolhimento dos animais, mas nosso serviço não é esse” informa uma trabalhadora que também faz questão de ressaltar seu afeto pelos animais.
De acordo com protocolo recomendado pelo Ministério da Saúde, em seu Manual de Vigilância, Prevenção e Controle de Zoonoses (Brasília, 2016), cães ou gatos errantes e atropelados devem ser isolados e observados durante 10 dias para acompanhamento de provável infecção pelo vírus da Raiva, uma vez que um dos primeiros sintomas é a desorientação do animal, seguido de aumento da agressividade, coordenação motora, paralisia, salivação intensa, dentre outros de caráter neurológico, vindo o mesmo a óbito.
Devido principalmente a está suspeita, os agentes de combate a endemias são orientados a tomar todas as preocupações a fim de evitar acidentes causados por mordidas ou arranhaduras, sendo utilizados, portanto os cambões retrateis, quando há impossibilidade de realizar recolhimento destes animais com a utilização somente das mãos. Animais em sofrimento, machucados, em condição de rua, onde são submetidos a diversas ações de maus tratos, são arredios, podendo reagir com agressividade a abordagens com a finalidade de invasão de seu espaço de segurança.
Resposta do governo
Em resposta à manifestação na portaria da Prefeitura, a secretária-adjunta da Ouvidoria da Secretaria Municipal de Saúde, Rita de Cássia da Mota Franco recebeu o Sind-Saúde Núcleo Regional Betim e uma comissão de trabalhadores. A ouvidora afirmou apoio ao ACE e classificou os ataques como uma manifestação política. “Conter o que sai na mídia e nas redes sociais a ouvidoria não pode, mas auditar de forma justa e imparcial sim”, disse Rita de Cássia.
O Sindicato cobrou da gestão uma postura mais clara em defesa do trabalhador que sofre as acusações injustas. A direção do Sind-Saúde Núcleo Regional Betim pediu também para acompanhar de forma ativa a auditoria que está sendo feita. De acordo com a ouvidoria, o caso está nas mãos dos técnicos da auditoria assistencial de saúde, ligada ao DENASUS (Departamento Nacional de Auditoria do Sistema Único de Saúde) e o processo requer tempo.
O Sind-Saúde ressaltou que essa auditoria deverá responder outras questões como o fato da zoonoses não ter levado à perícia a carcaça do animal, o que mostraria que o ACE não machucou o cão e outras como o porquê dele não ter sido levado ao lugar apropriado, como o hospital veterinário da PUC-Minas que a zoonoses tem parceria.
O fato
No dia 22 de novembro, um pedido da população chegou à zoonoses de Betim para recolhimento de um cachorro atropelado em estado grave. Sob orientação da coordenadora do Canil, o Agente de Combate à Endemias Leandro** (nome fictício para preservar o trabalhador) tentou recolher o cão com as mãos limpas, porém sem sucesso, pois o cão tentou mordê-lo. Nesse momento o agente fez uso do cambão, ferramenta de trabalho utilizada para contenção de cães agressivos, e de rua que oferecem algum tipo de risco, e colocou o cão na Unidade de Recolhimento de Animais (URA). No momento do recolhimento ninguém prontificou-se a acolher o cão para encaminhá-lo ao tratamento. O cão em questão, veio a óbito no canil, após o horário de fechamento da unidade as 17:00 horas, não sendo possível precisar em qual momento entre este horário e as 08:00 horas do dia posterior, quando houve a ocorrência.
O Sind-Saúde e servidores(as) da zoonoses reafirmam mais uma vez sua solidariedade com o ACE vítima das agressões verbais e ameaças. A partir de fatos como este a população brasileira precisa compreender os limites do julgamento precipitado e a cultura do linchamento.
Conteúdo Relacionado