O presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores, Artur Henrique, sublinhou nesta segunda-feira (22) a importância da mobilização das lideranças sindicais acompanharem na Comissão Especial da Câmara Federal, no próximo dia 30, a votação do relatório favorável à redução da jornada de trabalho sem redução de salários. A iniciativa, segundo o Dieese, pode gerar até 2,2 milhões de empregos.
"O momento é de defender o emprego, a renda e os direitos. A redução da jornada constitucional das atuais 44 horas para 40 representa um importante avanço para o conjunto da classe trabalhadora e é parte do processo de enfrentamento com a elite conservadora sobre qual o projeto de desenvolvimento a ser trilhado", declarou Artur, que dialogou com profissionais de comunicação por cerca de duas horas após café da manhã na sede da Rede Brasil Atual.
Ainda sem nome - houve quem sugerisse Cartas na Mesa, em função do ambiente - o bate-papo informal que começará a ser periódico, envolvendo jornalistas, radialistas e assessores de entidades cutistas, contou com a participação da secretária nacional da CUT, Rosane Bertotti; do secretário estadual de Comunicação da CUT-SP, Daniel Reis; e do coordenador da Rede Brasil Atual, Paulo Salvador.
Artur destacou a importância da conformação de uma rede de comunicação diferenciada, que tenha uma relação mais estratégica e comprometida com a classe trabalhadora, para que possamos "pensar o pós-crise" dentro de uma perspectiva de desenvolvimento nacional inclusivo. Ao abordar o tema, ele afirmou que, em primeiro lugar, a reunião de jornalistas e assessores de comunicação em torno de temas comuns, como acontecia naquele momento, mostrava um amadurecimento do movimento sindical. A própria criação e consolidação da Revista do Brasil e da rede Brasil Atual são evidências disso.
"Levamos 25 anos para fazer uma revista. Por quê? Porque ficava aquela discussão sobre qual o dirigente deveria ter foto na capa, se era bancário ou metalúrgico, se era da Contag ou da Fetraf-Sul, se Y ou X".
Da grande mídia, lembra Artur, não se pode esperar muito. "Nós vimos o papel extremamente daninho da mídia, que tanto exagerou no tamanho da crise que acabou fazendo apologia do caos, servindo de linha auxiliar de demos e tucanos", condenou, lembrando que o programa Fantástico, da Rede Globo, chegou a levar ao ar enquetes como "Você prefere reduzir salário ou ficar desempregado?", como se esta fosse a única opção. Na verdade, relatou, a mídia abriu espaço para que empresas oportunistas e sem nenhuma responsabilidade social, como a Vale e a Embraer, realizassem demissões em massa sem qualquer necessidade. "A Embraer chegou a demitir 4.700 trabalhadores de uma só vez. Agora está contratando 430. Esse tipo de abuso precisa ter fim. Por isso a CUT defende medidas como a ratificação da Convenção 158 da OIT e a regulamentação do artigo 7º, que inibam e contenham as demissões coletivas, vistas por muitos empresários como uma saída de ajuste natural".
O presidente cutista fez um paralelo entre o papel do novo sindicalismo no final dos anos 70 e os desafios da atualidade. Apostando na participação dos trabalhadores, lembrou, retiramos as assembléias de quatro paredes e trouxemos para a frente das empresas. Isso também teve um simbolismo, de sair do castelinho em que alguns pelegos viviam intocados. "Agora, precisamos fortalecer as comissões de fábrica eleitas democraticamente, as comissões de empresa, construir as Organizações por Local de Trabalho. É assim que conseguiremos fazer a disputa com o capital onde ela é mais dura e encarniçada. É assim que ampliaremos a nossa base de representação, investindo na formação política e ideológica, criando as condições para o fortalecimento do projeto de emancipação da classe".
A redução dos juros e o fim do superávit primário foram duas medidas abordadas por Artur como fundamentais para fazer frente à necessidade de fortalecimento do papel do Estado, utilizando no desenvolvimento, investindo em obras sociais e de infra-estrutura, os recursos esterilizados com os especuladores.
Avaliando a necessidade da desoneração tributária de produtos, como estímulo à manutenção de empregos, o presidente cutista destacou que esta é uma medida extremamente pontual e que não pode ser eterna, pois redundaria em tiro no pé do Estado, com queda na arrecadação e o conseqüente comprometimento do investimento na saúde, segurança, habitação e demais políticas públicas.
Sobre a mobilização em defesa da soberania nacional, realizada na última sexta-feira, em frente ao edifício-sede da Petrobrás na capital paulista, Artur resgatou a importância da articulação com as demais centrais e movimentos sociais para ampliar a pressão popular. "O objetivo do PSDB e do DEM com a CPI contra a Petrobrás é claro: impedir a mudança do marco regulatório, que garantirá as imensas riquezas do pré-sal para o povo brasileiro e será um divisor de águas do que é o país, possibilitando a diminuição das desigualdades. Com este compromisso, após ter descoberto a camada pré-sal, a Petrobrás vai investir 174 bilhões de dólares nos próximos cinco anos. Em vez disso a direita quer manter os leilões das bacias petrolíferas para as empresas multinacionais, daí os ataques à Petrobrás". O presidente cutista lembra que esta compulsão entreguista dos tucanos vem desde os tempos de Fernando Henrique, quando seu "guru", Sérgio Mota, que foi ministro das Comunicações, declarou que a Petrobrás era o último esqueleto no armário, um paquiderme que consumia bilhões de dólares da sociedade brasileira. A quem se somava David Zylbersztajn, então genro de FHC e presidente da ANP (Agência "Nacional" de Petróleo), defendendo a necessidade de "desmontá-la osso por osso".
A relevância do debate sobre o petróleo e um novo modelo de desenvolvimento, alertou Artur, infelizmente é inteiramente anulada pelos grandes meios de comunicação, comprometidos com outra agenda, que atenta contra os interesses nacionais e populares. Daí, frisou, a necessidade dos cutistas participarem ativamente das etapas municipais e estaduais que antecederão a Conferência Nacional de Comunicação convocada para os dias 1, 2 e 3 de dezembro, em Brasília. "Além de desqualificar os movimentos sociais, a mídia os criminaliza. Precisamos de uma imprensa livre, que garanta o direito do cidadão a uma comunicação veraz. Achei fantástica a idéia do blog da Petrobrás porque democratiza o acesso à informação, por isso a direita acha aquilo um absurdo, simplesmente porque permite um equilíbrio na comunicação, rompendo o monopólio da verdade", ponderou.
Para a secretária nacional de Comunicação da CUT, membro da Comissão Organizadora da Conferência, o envolvimento do sindicalismo cutista, em coordenação com as demais centrais e movimentos sociais será um elemento decisivo para a vitória sobre os interesses mercantis. "Infelizmente, temos concessões públicas que viraram negócios privados, pois os seus detentores se colocam como donos, manipulando e deformando a realidade que transmitem a milhões. O fortalecimento dos nossos instrumentos de comunicação servirá para fazermos um grande mutirão de debate sobre sua democratização, cumprindo um papel fundamental na disputa de hegemonia com os setores conservadores".