A luta da mulher: avanços e desafios
Publicado: 08 Março, 2023 - 12h42
Por um mundo onde sejamos
Socialmente iguais,
humanamente diferentes
e totalmente livres
Rosa Luxemburgo
A vida das mulheres sempre foi muito difícil. Desde criança, menina no ambiente com a família, da sua passagem por todas as fases: infância, adolescência, adulta; quando entra para o mercado de trabalho, nas relações afetivas, em tudo o que envolve o seu no cotidiano.
Se a revolução industrial possibilitou às mulheres acesso e avanços em diversas áreas – na política com o direito ao voto e conquista de cadeiras no parlamento, na gestão de grandes empresas nacionais e transnacionais, no mercado de trabalho, nas academias e tantos outros espaços –, ainda assim os desafios são incontáveis e intensos. Persistem as dificuldades e as exigências em provarmos e comprovarmos, na prática, as nossas habilidades. Na gestão de uma equipe de trabalhadoras/es ou em qualquer campo de atuação.
No século passado, por conquista própria, nós mulheres superamos os homens em nível de escolaridade. No Censo de 1900 as mulheres eram analfabetas; e terminaram o século 20 mais escolarizadas do que os homens. E isso ocorreu “sem que houvesse política pública” facilitadora, explica Hildete Pereira de Melo, uma das coordenadoras do Núcleo de Pesquisa em Gênero e Economia (NPGE) da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Essa conquista ainda não alterou o fato de que prevalecem fortemente as diferenças salariais. Apesar dos limites, são inegáveis os avanços das mulheres no mercado de trabalho nos últimos tempos. E a tendência, resultado de muita luta, é só ampliarmos nossos espaços e transpormos essas barreiras.
O caminho é longo, mas os obstáculos têm sido vencidos. As mulheres vêm superando ou se igualando em direitos com os homens em muitos segmentos. Estamos a cada dia mais presentes nas universidades, no comando de pesquisas importantes para a sociedade.
No campo da política eleitoral, segundo Renata Gil, presidenta da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), apesar de avanços na atual legislação eleitoral, é possível identificar claramente que as mulheres são vistas e usadas na condição de laranjas pelos partidos, visando receber repasses em dinheiro público. A magistrada considera perfeitamente perceptível enxergar a resistência ou até as disputas com o objetivo claro de negar à mulher a possibilidade de ascensão na conquista destes espaços.
A despeito desse cenário, e embora ainda tímida, a presença e a força legítima da mulher na política crescem nos parlamentos municipais, estaduais e federal, no comando de prefeituras e estados, assim como nos mais altos cargos de comando de um país, como ocorreu em nossa recente história, com a eleição e reeleição da ex-presidenta Dilma Rousseff.
Não é diferente no judiciário, com juízas e promotoras, procuradoras e advogadas, brilhando em suas funções e atribuições. A própria jurista e magistrada Renata Gil foi a primeira mulher a concorrer e se eleger presidenta da AMB, em 70 anos da instituição.
O machismo, sem qualquer dúvida, é nosso maior desafio a ser superado nesse século. Nosso e de toda a sociedade. Persiste forte a discriminação criada pelo sistema patriarcal, por meio do pressuposto de que as mulheres são inferiores aos homens.
A discussão de igualdade de gênero esbarra no machismo profundamente arraigado e carregado de preconceito em parcelas significativas da sociedade. E isso dificulta sobremaneira o debate saudável sobre os nossos direitos e deveres.
Esse machismo tem como uma de suas principais consequências a violência. Homens heterossexuais se acham donos dos nossos corpos e de nossas vidas. Acreditam ter direito ao assédio, ao estrupo, ao feminicídio, todos crimes tipificados em leis!
Vários pesquisadores e pesquisadoras do tema são da opinião de que o machismo no Brasil é estrutural. Ou seja, é cultural e inerente a diversos aspectos da sociedade, tendo sido normalizado por muitas décadas em diversos setores da nossa sociedade.
Os movimentos feministas e de mulheres, os movimentos sociais, populares e sindicais temos combatido com veemência as atitudes do opressor (do macho!), que é racista e se opõe à igualdade de direitos.
Nosso pressuposto é de que o machismo tem que acabar e ser superado. E, em seu lugar, como consequência de nossa luta, há de imperar um outro mundo possível, com relações equânimes e igualdade na diversidade. Um mundo no qual homens, mulheres e todos os gêneros convivamos de forma harmoniosa, respeitosa, recheada de direitos e conquistas.
Terezinha de Jesus Aguiar é diretora de Políticas Sociais do Sintfesp-Go/To, secretária Geral da Central Única dos Trabalhadores – CUT-GO e dirigente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social (CNTSS/CUT)