Escrito por Leonardo Severo
Agora, os povos: Da crise à justiça global
Com o lema “Agora, os povos: Da crise à justiça global”, a Confederação Sindical Internacional (CSI) realizará de 21 a 25 de junho em Vancouver, no Canadá, o seu II Congresso. Resultado do acúmulo e crescimento cutistas no plano político-sindical nacional e mundial, a central participará com uma delegação ampliada, formada por doze dirigentes.
De acordo com João Felício, secretário de Relações Internacionais da CUT, é inegável e cada vez mais reconhecido o protagonismo do movimento sindical brasileiro durante o último período, particularmente pela atuação firme e ampla adotada pelos cutistas. “Esta compreensão plural, da necessidade de somar esforços na direção de objetivos comuns, desembocou nas marchas das centrais e na conquista da política de valorização do salário mínimo, do reajuste da tabela do Imposto de Renda, no aumento das aposentadorias”, acrescentou. Na avaliação do secretário, com uma ação pautada na defesa do mercado interno, na geração de emprego, distribuição de renda e ampliação de direitos, a CUT e os movimentos sociais brasileiros conseguiram deter os impactos negativos da crise internacional, transformando-se em referência de luta e conquista. “É esta contribuição que queremos dar ao sindicalismo internacional que, particularmente na América Latina, ao lado dos governos progressistas da região, tem conseguido estar à altura dos desafios colocados pela conjuntura”, acrescentou.
DELEGAÇÃO - Além de João Felício, compõem a delegação cutista o presidente nacional da CUT Artur Henrique; o vice-presidente José Lopez Feijóo; o secretário de Finanças, Vagner Freitas; a secretária de Comunicação, Rosane Bertotti; o secretário de Formação, José Celestino; a secretária de Relações do Trabalho, Denise Motta Dau; a secretária Nacional da Mulher Trabalhadora, Rosane Silva; a secretária de Juventude, Rosana Sousa; a secretária de Combate ao Racismo, Júlia Nogueira; a secretária de Meio Ambiente, Carmen Helena Foro e o diretor executivo Júlio Turra.
Conforme o secretário geral da CSI, Guy Rider, o mundo se encontra num ponto de inflexão entre um futuro que possa oferecer trabalho decente, um desenvolvimento sustentável e equilibrado, um melhor nível de vida e respeito pelos direitos humanos, e outro que afundaria a milhões de pessoas no desemprego, na pobreza e na impotência, com todos os perigos e sofrimentos que isso acarretaria.
No momento em que o informe da CSI foi escrito, alertou Guy Rider, a política de desmonte financeiro provocou uma crise social e de emprego sem precedentes, que fez com que 34 milhões de postos de trabalho se perdessem em todo o mundo e outras 64 milhões de pessoas mergulhassem na mais extrema pobreza, enquanto inverteram bilhões de dólares “para salvar instituições cuja responsabilidade pela maneira em que se desenvolveram os acontecimentos resulta evidente”. “O fechamento de postos de trabalho continua e as perspectivas de uma recuperação da estabilidade financeira não são nada seguras”, aponta o informe, alertando que a continuidade do processo especulativo cobra um elevado custo humano.
PRIORIDADES - Diante da necessidade de reverter o atual quadro a partir da ação e da mobilização da classe trabalhadora, a CSI apontou suas prioridades para que o Congresso debata e atua em favor da justiça social global:
Trabalho decente para todos: Começando por promover uma enérgica aplicação do Pacto Mundial para o Emprego da OIT como peça central de uma estratégia contra a crise que ponha ênfase na criação de emprego, de oportunidades de trabalho decente para todos e todas, como um objetivo central da política econômica e social.
Justiça e equidade no mercado de trabalho: Reverter as desigualdades acumuladas no passado requer a restauração da justiça e a equidade nos mercados de trabalho. A CSI deverá portanto: lutar a favor do respeito universal dos direitos fundamentais dos trabalhadores; promover níveis elevados de organização sindical e de cobertura da negociação coletiva; combater o trabalho precário e informal; e fazer campanha para acabar com a brecha salarial de gênero e eliminar qualquer outro tipo de desigualdades de gênero no trabalho.
Regular as finanças: Colocar a economia financeira a serviço da economia real é algo essencial para uma economia global que responda às necessidades humanas reais. A CSI deverá se mobilizar em campanha por uma regulação efetiva e adequada dos mercados e atores financeiros, e pelo estabelecimento de um imposto internacional sobre as transações financeiras.
Um futuro sustentável com baixas emissões de carbono: Situar a economia global numa trajetória que preveja uma mudança climática catastrófica é essencial para preservar os empregos e o bem-estar dos trabalhadores e trabalhadoras no mundo inteiro, assim como o futuro do planeta a longo prazo. A CSI deverá trabalhar em prol de uma “transição justa” até este futuro sustentável, que proteja os interesses dos trabalhadores e promova o trabalho decente.
Um novo modelo de desenvolvimento: O atual modelo de globalização não conseguiu uma divisão equitativa dos benefícios obtidos.
Tem falhado na hora de possibilitar oportunidades para um desenvolvimento equilibrado para todos os países e não conseguiu fazer ações mais decisivas para reduzir a pobreza no mundo nem as desigualdades profundamente enraizadas. A CSI portanto deve atuar pelo estabelecimento de um novo modelo em que tanto os países em desenvolvimento como os desenvolvidos possam cumprir com suas responsabilidades respectivas e compartilhadas para assegurar-se de que todos se beneficiem plenamente dos frutos do progresso econômico e social.
Governança da globalização: A crise global é conseqüência direta do fracasso da comunidade internacional na hora de impor uma governança adequada ao processo de globalização impulsionado exclusivamente pela dinâmica de desregulamentação, liberalização e privatização. Corrigir suas deficiências e evitar novas crises implica abordar de maneira urgente a necessidade evidente de governança. A CSI deverá promover e apoiar iniciativas a favor da governança, para substituir o atual fundamentalismo de mercado por um compromisso com a coerência política, com vistas a incorporar uma dimensão social na globalização, e tendo o trabalho decente como objetivo político primordial.
Fonte - CUT Nacional