O ato realizado em protesto pela falta de segurança na rotina de trabalho dos servidores da Saúde aconteceu, na quarta-feira, 23 de junho, em frente à Emergência do Hospital Regional da Ceilândia (HRC), em Brasília. Cerca de 70 funcionários do Hospital paralisaram suas atividades para reivindicar melhores condições de trabalho e o fim das agressões e insultos que sofrem diariamente. O grupo entoava frases de ordem “Segurança! Segurança!” e conseguiu chamar atenção da imprensa, que esteve presente em peso.
Na segunda-feira, 21 de junho, por volta do meio-dia, um travesti conhecido como Maíra se revoltou com a demora do hospital em atender sua amiga, que havia se afogado, e atacou três profissionais da Saúde. O travesti, portador do vírus HIV, conseguiu uma injeção, colheu o próprio sangue e o injetou na enfermeira-chefe do setor. Uma técnica de laboratório da equipe tentou ajudar a vítima, mas acabou sendo mordida pelo travesti de forma profunda. A técnica de enfermagem Lúcia Maria também tentou intervir e foi atingida com socos e chutes.
A enfermeira do HRC que levou as picadas da seringa com o sangue do travesti está de licença médica, mas esteve presente no ato por dez minutos. Ela foi embora porque não estava em condições de participar da manifestação. O marido, Lúcio Fábio, comentou que a esposa está inconformada com o que aconteceu. “Ela está deprimida e passa o dia a base de sedativos. Está sendo acompanhada por psicólogo, psiquiatra e infectologista”, disse.
Sobre o risco de contrair o vírus HIV, o marido revelou que as chances são pequenas, mas a certeza só virá depois de aproximadamente seis meses, tempo em que o vírus pode permanecer escondido. “A nossa maior preocupação é com a Hepatite C, que é muito pior que a Aids. Tudo vai depender da carga viral do indivíduo”, comentou. Lúcio falou também que toda a família está em situação emocional delicada depois do ocorrido, inclusive os três filhos do casal, um com 25 anos, outros com 14 e a caçula de nove anos.
A técnica de enfermagem Lúcia Maria contou que poderia ter recebido as picadas com a seringa contaminada se não tivesse corrido do agressor. “Ele me ameaçou com a seringa e disse que eu seria a primeira, por isso saí correndo. Eu sabia que ele era soro positivo porque já o tinha atendido antes. Quando fugi, minha colega apareceu para ver o que estava acontecendo e recebeu as picadas com a injeção contaminada”, relatou Lúcia, que completou “O travesti ainda falou para ela: agora você faz parte do meu time”.
O presidente licenciado do SindSaúde-DF, Agamenon Torres, esteve no ato e ressaltou que a solução do problema não está apenas na contratação de seguranças, mas em investimento na estrutura do hospital e na contratação de servidores da Saúde. “Esse episódio acontece todos os dias na rede pública. Precisamos contratar o dobro de profissionais que atuam hoje para melhorar a qualidade do atendimento. Além disso, a estrutura está defasada. O HRC foi construído na década de 80, quando Brasília tinha 500 mil habitantes. Hoje, só a Ceilândia tem população de 600 mil pessoas”, destacou.