“Valorizar o salário mínimo é também valorizar a saúde do trabalhador e sua família”, afirmou Solaney
Escrito por: Leonardo Severo
Em encontro na manhã desta segunda-feira (25) com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, lideranças das centrais sindicais reiteraram a importância do salário mínimo de R$ 580,00 e da continuidade da política de ganhos reais para o combate às desigualdades e para a própria saúde do trabalhador.
“Valorizar o salário mínimo é também valorizar a saúde do trabalhador e de sua família. Contamos com o apoio do ministro em defesa dos R$ 580 necessários para afirmar esta visão de desenvolvimento, de justiça social”, declarou o secretário de Políticas Sociais da CUT, Expedito Solaney. Padilha respondeu que a mesma solicitação já havia sido feita pelo presidente da CUT, Artur Henrique, “já na nossa primeira conversa”.
Embora o tema principal da reunião fosse debater ações de combate à dengue, os dirigentes sindicais aproveitaram o encontro, no Gabinete Regional da Presidência da República em São Paulo, para pedir o apoio de Padilha à reivindicação unitária do movimento sindical brasileiro pelos R$ 580,00. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, recebe oficialmente as centrais nesta quarta-feira, em Brasília, para abrir negociação a respeito do reajuste do salário mínimo para 2011. A reunião foi marcada após intensos protestos das centrais sindicais, que reagiram ao valor de R$ 545 proposto pela equipe econômica.
O 1º secretário da Força Sindical e presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo, Sérgio Luiz Leite, defendeu um acordo com os ministérios sociais para sensibilizar a equipe econômica de que “o aumento do salário mínimo vai melhorar a distribuição de renda, a qualidade de vida dos trabalhadores e da sociedade em geral, ajudando também na erradicação da miséria, compromisso da presidenta Dilma”.
Durante o encontro com Padilha as centrais também defenderam a indicação de nomes vinculados aos trabalhadores e aos movimentos sociais para a composição da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), “a fim de que as raposas não fiquem tomando conta do galinheiro”. Há dois cargos vagos desde outubro de 2010, explicaram os dirigentes, e é preciso colocar nomes comprometidos com a saúde pública, já que as empresas operadoras de saúde estão fazendo forte pressão em contrário. Padilha prestou atenção, anotou o alerta e prometeu avaliar com cuidado o caso.
COMBATE À DENGUE
Diante do “risco real de epidemia de dengue”, informou o ministro da Saúde, nada mais necessário do que dialogar com o movimento sindical brasileiro, a “parcela mais organizada dos usuários do sistema público de saúde” para auxiliar na prevenção. “Ter vocês como parceiros pode ser algo decisivo”, declarou Padilha, defendendo a parceria para ampliar e qualificar uma ampla rede, que não só atue no caso específico da dengue - mais urgente -, mas também em questões relativas à saúde do idoso, à prevenção das doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e da AIDS.
Dos 16 Estados com “risco de alerta”, há 70 municípios de “alto risco”, onde problemas com o acesso à água e ao saneamento básico, aliados à alta densidade populacional potencializam as adversidades no combate ao mosquito transmissor da dengue. Para estes municípios o Ministério está solicitando às autoridades uma checagem diária e uma quantificação semanal dos casos. Padilha sublinhou que “prevenir é melhor do que remediar” e lembrou que nas conversas com o empresariado tem solicitado maior envolvimento com a questão, já que além dos evidentes riscos à saúde, individual e coletiva, uma pessoa com dengue aumenta os custos da empresa, já que falta em média seis dias ao trabalho - se o caso for ambulatorial, e 11, caso fique internado.
Para o combate ao mosquito, assinalou o ministro, é preciso o envolvimento das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (CIPAs), dos representantes dos trabalhadores nos Conselhos Municipais e Estaduais de Saúde, e “usar muito os meios de comunicação sindical para fazer a informação chegar nos locais de trabalho”. Padilha disse que a experiência mostra que grande parte das pessoas infectadas não procuraram as unidades básicas de saúde. Assim, quando foram buscar auxílio, precisaram disputar atendimento no Pronto Socorro, onde se acumulam casos mais graves com vítimas de acidentes de carro, de tiros, facadas, etc... “É uma disputa com risco, devido à demora da procura”, explicou.
Ao mesmo tempo em que convocou o movimento sindical a ser um aliado do governo na mobilização contra uma provável epidemia, Padilha comunicou que estão sendo contatadas organizações empresariais, religiosas e esportivas, para que se somem neste grande mutirão nacional em defesa da saúde.
A atualização dos médicos e enfermeiros, também da rede privada, assinalou, é uma prioridade, uma vez que há cidades em que os óbitos por dengue aconteceram na saúde complementar. “Por isso vamos usar todos os instrumentos para esta mobilização”, frisou Padilha, lembrando que a parceria estabelecida com a Fiocruz e o Instituto Butantã, que pesquisam duas experiências de vacina, colocam a perspectiva de resolução definitiva do problema entre seis a dez anos.
Quanto às ações do Ministério com as centrais, acrescentou Padilha, terão desdobramento “em defesa da saúde dos trabalhadores, das mulheres, dos idosos, numa profunda relação de diálogo com o movimento sindical”.
DEMOCRATIZAR A ANS E AVANÇAR NA REFORMA URBANA
Expedito Solaney destacou a relevância da iniciativa do Ministério, defendeu a escolha de nomes vinculados ao movimento social na composição da ANS e também reforçou a necessidade da reforma urbana, “pois dialoga com investimento em água tratada, em saneamento básico, em redes de esgoto, em condições dignas de moradia que são obstáculo à multiplicação do mosquito da dengue”.
Representando a Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), Jorge Venâncio saudou a disposição do diálogo mais permanente e sugeriu uma maior atenção do Ministério com o problema dos acidentes envolvendo caminhoneiros. Esta é uma questão primordial, alertou, uma vez que a Previdência aponta 2.600 óbitos por ano, enquanto os acidentes com caminhão ultrapassam os 8 mil óbitos. “É uma verdadeira carnificina. O contrato exige do caminhoneiro que faça a viagem de São Paulo a Recife em 52 horas e cada hora que demora a mais ele recebe a menos. São acidentes de trabalho”, explicou. O dirigente da CGTB também pediu ao ministro sensibilidade com a indicação dos nomes para a Agência Nacional de Saúde Suplementar: “Precisamos retomar para a sociedade a maioria da ANS”.
O presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT) e do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, Ricardo Patah, discorreu sobre várias iniciativas levadas a cabo com êxito pelos sindicatos de Comerciários e Químicos, como o Verão sem Aids, em Praia Grande, que mobiliza dezenas de milhares de pessoas, para enfatizar a importância de ações unitárias do movimento sindical. “Muitos sindicatos têm, inclusive, estrutura ambulatorial. Vamos nos mobilizar para impedir que a epidemia ocorra pois filas enormes são sentença de morte”, assinalou.
As centrais encerraram sua intervenção reafirmando o compromisso coletivo com o conjunto da pauta debatida com o ministro e enfatizaram que vão ampliar as ações de combate à dengue, tornando mais didática a informação sobre a prevenção, e colocando o tema com relevo nas comemorações do 1º de Maio, Dia Internacional dos Trabalhadores.
Ao final da reunião o ministro anunciou que estará em Aparecida do Norte no próximo dia 30 para dialogar com aposentados e pensionistas sobre as suas reivindicações para a pasta e também convidá-los a participar das ações do Ministério.