Mariana Lenharo
Pessoas que se expuseram ao vírus HIV em situações de rompimento do preservativo podem se submeter a um tratamento de prevenção para evitar que o vírus causador da aids se instale no organismo. O “coquetel do dia seguinte”, conjunto de remédios que pode ser ministrado após a relação sexual desprotegida, vai estar ao alcance do cidadão paulista em até 400 unidades públicas de saúde ao longo do ano, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde. Atualmente, existem 172 locais de atendimento, cujos endereços podem ser conferidos no site www.crt.saude.sp.gov.br/content/githejeket.mmp
Os medicamentos são gratuitos e a prioridade de distribuição recai sobre casos de acidente de trabalho (um médico tomar contato com sangue contaminado, por exemplo) e de violência sexual, conforme norma do Ministério da Saúde. Só depois serão analisados os casos em que a camisinha estourou ou houve sexo inseguro por algum outro motivo. Embora o governo paulista admita publicamente essa hipótese, Maria Clara Gianna, coordenadora do Programa Estadual DST/Aids, garante que os relatos dos pacientes nas unidades de saúde serão avaliados de forma criteriosa e frisa que a melhor forma de prevenção ainda é a “prática do sexo seguro”, com camisinha.
Efeitos colaterais
O mecanismo de ação do coquetel do dia seguinte da aids é parecido com o da pílula de emergência para impedir a gravidez. Para melhorar a eficácia do procedimento, cujo índice de sucesso supera os 90%, o paciente - homem ou mulher - tem de tomar uma mistura de três remédios em até 72 horas após a relação sexual desprotegida. A mesma medicação deve ser tomada por 28 dias consecutivos e traz efeitos colaterais. Se tomado repetidas vezes, o coquetel perde a eficácia.
Nos casos de relações sexuais com parceiros desconhecidos, quando não se sabe se houve a exposição ao vírus, a orientação é analisar caso a caso para constatar se existe a necessidade de submeter a pessoa ao tratamento preventivo, segundo a Secretaria Estadual de Saúde.
“Avaliamos o tipo de relação - se foi anal, oral, vaginal - e a qual população pertence o parceiro. No caso de homens que têm relações com profissionais do sexo ou com pessoas que usam drogas endovenosas, por exemplo, o risco é maior”, diz a médica infectologista Denize Lotufo, do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids (CRTDST/Aids).
A intenção é focar também nos casais sorodiscordantes - em que um dos parceiros é soropositivo e o outro, não - segundo Denize Lotufo. “A ideia é dar segurança para esse público. Desde 2006, o Ministério da Saúde já dava essa orientação, mas muitas pessoas não se apropriavam da ideia.”
Cuidados
Quanto antes a profilaxia é iniciada, maior sua eficácia. “O ideal é, em até 4 horas, procurar o serviço mais próximo para iniciar o tratamento”, afirma a infectologista Ligia Raquel Brito, do Hospital Edmundo Vasconcelos.
Todos os especialistas alertam que esse tipo de procedimento não deve ser banalizado e que o uso de preservativos ainda é a melhor maneira de se resguardar diante da Aids. “Traço um paralelo com a pílula do dia seguinte (contraceptivo de emergência). Não se pode usar como uma muleta e pensar que não é tão importante se proteger, já que há um tratamento”, afirma a infectologista Sumire Sakabe, do Hospital Nove de Julho.
Os preservativos protegem não só contra o vírus HIV, mas contra hepatite, HPV, gonorreia e outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs).