CNTSS > LISTAR NOTÍCIAS > ACONTECE > ISP: MAIS DE 3 MIL TRABALHADORES DA SAÚDE RESPONDEM QUESTIONÁRIO SOBRE CONDIÇÕES DE TRABALHO
03/06/2020
Dois terços relatam sofrimento psíquico e falta de EPIs e treinamento adequado, enquanto um terço afirma cumprir jornadas de 12 horas ou mais. Levantamento integra a campanha “Trabalhadoras e Trabalhadores Protegidos Salvam Vidas”, realizada pela Internacional de Serviços Públicos (ISP) e suas filiadas no Brasil
Mais de 3 mil trabalhadoras e trabalhadores brasileiros responderam voluntariamente, durante dois meses – de 27 de março a 27 de maio –, um questionário sobre condições de trabalho nos serviços essenciais na linha de frente contra o coronavírus.
Os dados trazem informações alarmantes. Entre eles, o de que 64% não têm recebido Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) suficientes para a devida troca e higienização, apenas 50% receberam máscaras de proteção N95 ou PFF2, 69% não receberam treinamento adequado para lidar com o surto de coronavírus, 32% têm cumprido jornadas de 12 horas ou mais e 53% estão passando por sofrimento psíquico.
Esses dados fazem parte de um levantamento que integra a campanha “Trabalhadoras e Trabalhadores Protegidos Salvam Vidas”, lançada em 31 de março pela Internacional de Serviços Públicos (ISP) e suas filiadas no Brasil, cujo objetivo é usar as informações sobre condições de trabalho coletadas para pressionar gestores públicos e empregadores privados a melhorá-las. A coleta das respostas é feita por meio de um questionário online – a identificação não é obrigatória.
Inspirada na campanha global de mesmo nome da ISP – federação sindical internacional que representa 30 milhões de trabalhadoras e trabalhadores públicos em 154 países –, a iniciativa é impulsionada pelo escritório da organização no Brasil e diversas entidades sindicais filiadas no país. Entre xs respondentes, 84% são trabalhadorxs da saúde, 64% são servidorxs públicxs, 74% são mulheres e 43% são profissionais de Enfermagem.
Um diagnóstico preocupante dos resultados da campanha é de que as condições de trabalho praticamente não têm se alterado do início (em 27 de março) para cá. Em relação aos EPIs, por exemplo, o último relatório sintético do levantamento afirma: “A expectativa era de que com o passar do tempo o número de pessoas que afirmam receber EPIs aumentasse, pois mais tempo gestores públicos e empregadores privados tiveram para adquirir e distribuir estes materiais, mas isso não ocorreu”.
Outro dado que chama a atenção é a diferença de percentuais sobre sofrimento psíquico quando se analisa o sexo do respondente. Entre as mulheres, 57% afirmaram estar passando por esse problema, enquanto entre os homens o índice chega a 44%.
“Isso nos dá margem para analisar essa questão a partir das desigualdades de gênero: dupla – ou tripla – jornada de trabalho feminina, menores salários, maior precarização das relações de trabalho, falta de compartilhamento das tarefas domésticas com a família, mulheres como chefas de família e portanto maiores reponsabilidades, pressão e sobrecarga de trabalho, agravadas por exposição ao assédio moral e/ou sexual. Embora haja diferença entre homens e mulheres nos índices de sofrimento psíquico, esse indicador é alto para ambos sexos e somado aos demais dados indica que temos pessoas trabalhando com medo devido à baixa proteção, ausência de treinamento específico, equipe escassa e ainda mais reduzida no momento, vendo colegas serem contaminados e morrerem, arriscando a si mesmos (muitos são do grupo de risco), exercendo uma jornada de trabalho exaustiva e expondo a família aos risco de contaminação”, diz o relatório.
Entre as informações preocupantes, estão também a de que 21% dxs profissionais têm utilizado transporte público para ir ao trabalho – ou seja, correm risco de contaminação também no deslocamento – e que em 94% dos casos não está sendo oferecida hospedagem para trabalhadores que não podem retornar a suas casas para não contagiarem familiares que sejam dos grupos de risco.
Leia o relatório sintético da enquete aqui.
Igor Ojeda
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