CNTSS > LISTAR NOTÍCIAS > ACONTECE > CAMPANHA “BRASIL NÃO PODE PARAR” É IGUAL A DE MILÃO, QUE JÁ MATOU 4,4 MIL PESSOAS
27/03/2020
Enquanto o prefeito de Milão, Giuseppe “Beppe” Sala, reconhece publicamente que errou ao ter apoiado a campanha “Milão não para” depois de a cidade italiana ter registrado mais de 4,4 mil mortes, o governo de Jair Bolsonaro prepara campanha milionária em defesa do isolamento vertical, contrário a todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do próprio Ministério da Saúde que orientaram a população a ficar em isolamento social para conter a disseminação do novo coronavírus (Covid-19).
Quando defende o isolamento vertical, Bolsonaro quer dizer o seguinte: ao invés de todo mundo ficar em casa, devem ficar isoladas só as pessoas que estão no grupo de risco como idosos acima de 60 anos, portadores de diabetes, hipertensão e doenças cardíacas ou pulmonares.
Campanha milionária
Com o slogan “O Brasil não pode parar”, a campanha de Bolsonaro para estimular os brasileiros a irem às ruas e voltarem a trabalhar, que pode provocar a morte de milhões de brasileiros, custará R$ 4,8 milhões aos cofres públicos, dinheiro que poderia ser usado para diminuir o drama de quem não terá renda alguma durante a quarentena como os informais e os desempregados.
Segundo o blog do jornalista Guilherme Amado, o material está sendo elaborado pela agência IComunicação. A peça publicitária foi classificada como emergencial e, portanto, foi realizada sem licitação. A escolha do material, ainda segundo o jornalista, foi de responsabilidade do vereador Carlos Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro.
“Nós não podemos tolerar que algo dessa natureza seja feito com o dinheiro público”, disse o presidente da CUT-RJ, Sandro Alex de Oliveira Cezar, em vídeo publicado nas redes sociais.
Sandro César, que é também presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social (CNTSS), afirmou que o governo brasileiro vai na contramão do que estão fazendo quase todos os países do mundo, alguns inclusive estão colocando as polícias nas ruas para que a população não saia da quarentena e contribua para espalhar o vírus.
“Isso vai por a vida dos brasileiros em risco”, disse o dirigente, que ressaltou que a vida que já está ruim depois das medidas que tiraram direitos dos trabalhadores como a reforma Trabalhista de Michel Temer que estimulou a informalidade, e a reforma da Previdência de Bolsonaro, entre outras que beneficiam o capital e prejudicam o povo.
Sandro César afirma, ainda, que a campanha de Bolsonaro “visa desinformar e colocar a população em risco” e defende que a CUT entre com uma ação para tirar a campanha do ar.
O exemplo italiano mostra que Bolsonaro realmente não está preocupado com a vida dos brasileiros, só pensa na economia. Na cidade italiana, a campanha lançada que estimulou os moradores de Milão a continuar as atividades econômicas e sociais, mesmo sob alerta do risco de propagação do novo coronavírus começou há um mês, como mostra reportagem de Fabio M Michel, da RBA.
De acordo com a reportagem, a campanha contra o isolamento social foi iniciada na Lombardia, região da qual Milão é a capital, em 28 de fevereiro. Na ocasião, a Lombardia registrava 258 casos confirmados de Covid-19. Nesta sexta-feira (27), já contabilizar 34.889.
No fim de fevereiro, a Itália registrava 12 mortes pela doença. Atualmente, o país contabiliza 80.589 casos confirmados de Covid-19 e 8.215 mortes - 4.474 só em Milão.
“Muitos se referem àquele vídeo que circulava com o título #MilãoNãoPara. O vídeo estava explodindo nas redes e todos o divulgaram, inclusive eu. Certo ou errado? Provavelmente errado”, reconheceu Giuseppe Sala, em entrevista a uma emissora italiana no início desta semana, replicada em vários jornais do país. “Ninguém ainda havia entendido a virulência do vírus, e aquele era o espírito”, afirmou, reproduz trecho da reportagem da RBA.
Ainda segundo a reportagem, o vídeo da campanha passou a circular na internet depois que o governo central decidiu confinar 11 cidades do norte italiano, em reação ao registro dos primeiros casos de transmissão comunitária do coronavírus. A produção destacava “resultados econômicos importantes” que “corriam risco” e apoiado em expressões como “porque, a cada dia, não temos medo. Milão não para”.
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