Alencar Uzidoro - De São Paulo
A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) promete multar a partir de hoje os motoristas que desrespeitarem a prioridade dos pedestres em travessias da região central da cidade de São Paulo e da avenida Paulista.
A fiscalização, com penalidades de até R$ 191,53 e sete pontos na carteira de habilitação, tem início três meses após o lançamento de uma campanha que, até agora, não conseguiu mudar o quadro de desobediência generalizada nas ruas da cidade.
Monitoramento realizado pela CET em quatro pontos da região central mostra que 90,3% dos condutores ainda desrespeitam a preferência dos pedestres e 42,2% não dão seta na conversão.
O patamar é semelhante aos 89,6% antes do programa, que mantém hoje 1.040 orientadores educativos.
Além do respeito ao pedestre, a meta é baixar atropelamentos, que mataram 630 no município no ano passado. A CET treinou 154 agentes para multar na zona central, primeiro alvo da campanha.
Entre as infrações comuns estão não parar onde existe faixa de travessia sem semáforo e, na conversão, não dar a vez ao pedestre que atravessa a rua na transversal.
Desde 2010, mesmo com desobediência generalizada, só dois por dia foram punidos por essas duas irregularidades. Oficialmente, a CET fala agora em "apertar" a fiscalização. Na prática fazia vistas grossas --as multas são previstas no Código de Trânsito Brasileiro de 1998.
A ação pró-pedestre também não conseguiu educar quem anda a pé. Em outra pesquisa realizada pela CET, só 0,3% dos que queriam atravessar fizeram um gesto para mostrar essa intenção.
O gesto é recomendado, mas não obrigatório --os motoristas são obrigados a parar independentemente dele.
O respeito à faixa é disseminado em países desenvolvidos --e comum em Brasília após campanha nos anos 90. O objetivo da CET tem a aprovação majoritária de especialistas --que citam, no entanto, uma série de falhas.
A prefeitura prometia ampla divulgação inclusive na TV --que só deve sair do papel depois da fiscalização. Além disso, ainda são muitas as deficiências de sinalização, como faixas de pedestres apagadas no asfalto.
Fundadora do movimento Pedestre Primeiro, a psicóloga Cássia Fellet avalia haver "amadorismo" --da falta de manutenção de botoeiras à instalação de alertas tímidos, às vezes atrás de postes.
Foto - Rodrigo Capote - 10.mai.2011/Folhapress
Pedestres entre carros na faixa de pedestre do cruzamento da rua Riachuelo com rua Quintinho Bocaiuva, em SP