Escrito por Archimedes F. Lazzeri, da SNF e William Pedreira
Evanildo Terena, diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias de Bauru, MS e MT e José Carlos Pacheco, Secretário de Relações Sindicais da Federação Sindical dos Servidores Públicos Municipais do Estado do Mato Grosso do Sul, são dirigentes sindicais comprometidos tanto com a defesa dos direitos da classe trabalhadora quanto dos direitos dos trabalhadores indígenas que vivem fora das reservas e aldeias tuteladas pela FUNAI.
Para isso, os dois sindicalistas da etnia terena estão empenhados em organizar o coletivo dos trabalhadores e trabalhadoras das etnias dos povos de origem na CUT do Mato Grosso do Sul. O objetivo de ambos é dar maior visibilidade para as necessidades desses homens e mulheres das diversas etnias do MS, pelo menos naquilo que é específico em relação aos demais trabalhadores e trabalhadoras.
Portanto, não se trata de discutir problemas relacionados à demarcação de terra e regulamentação fundiária das etnias que vivem em reservas legais, mas de enfrentar as questões específicas desses povos no mundo do trabalho, tal como: formação profissional, emissão de documentos civis de indígenas, vagas em concursos públicos de órgãos indigenistas, promoção de concursos públicos para professores indígenas e empregos formais de qualidade.
A discriminação e a falta de oportunidades no mercado de trabalho a que estão submetidos os chamados “desaldeiados” é o que fundamenta o compromisso dos dois dirigentes com a criação de uma nova política da CUT, cujo primeiro passo é a organização do Coletivo Estadual dos Trabalhadores das Etnias dos Povos Originais da CUT-MS e, posteriormente, consolidar na CUT uma política nacional para os povos originais.
Povos Originais, o que significa essa terminologia?
Os termos índio, ameríndio e indígena têm origem no equivoco de Colombo, que imaginou ter chegado às Índias quando na verdade estava na América. Depois, de modo pejorativo, foram utilizados como sinônimos de não civilizados e inferiores em relação aos colonizadores que invadiram e ocuparam o continente americano.
Agora, a partir de resoluções de fóruns internacionais de etnias de diferentes continentes, uma nova terminologia passa a ser utilizada para substituir a forma pejorativa de tratamento imposta pelos colonizadores, POVOS ORIGINAIS.
Essa é a luta de José Carlos e Evanildo! Defender os direitos dos trabalhadores Terenas, Guató, Guarani-Kaiwá e outras etnias com o apoio das direções da CUT e do conjunto de seus militantes.
Afinal, a maioria desses trabalhadores e trabalhadoras vive na informalidade, em geral, recebendo o benefício do programa bolsa família, uma renda que movimenta o comércio e a economia de
muitas cidades, mas que não garante oportunidades de emprego e não prepara essa parcela da população trabalhadora para a ocupação formalizada e empregos de qualidade.
A CUT e os Trabalhadores das Etnias dos Povos Originais do Brasil
Para Evanildo e José Carlos é preciso fazer uma radiografia sindical dessa parcela da população que está fora das reservas legais, pois os direitos consagrados para o conjunto da classe trabalhadora ainda não estão ao alcance da maioria desses trabalhadores e trabalhadoras das diferentes etnias dos povos originais do Brasil.
Para os dois sindicalistas da CUT-MS, a falta de visibilidade para essa questão diz respeito ao limite do discurso usual sobre os direitos das etnias dos povos originários, que se reduz aos direitos dos que vivem em reservas legais.
Para a CUT, que nasceu das lutas de todos os trabalhadores e trabalhadoras, urbanos, rurais, brancos, negros e indígenas, é preciso superar a invisibilidade social a que estão submetidos esses trabalhadores e trabalhadoras. Assim, a luta desses companheiros, por mais específica que possa parecer, é a luta do conjunto da nossa central, que se constituiu como entidade plural, democrática e que sempre fez da solidariedade um instrumento de luta contra todas as formas de exploração e discriminação.