•Por Marcio Pochmann
O avanço da crise internacional sobre o Brasil desde outubro de 2008 resultou em uma importante mudança de rota que vinha combinando expansão econômica com melhora social considerável. O mercado de trabalho, contudo, levou um tempo maior para manifestar mais fortemente os sinais da crise. Somente quatro meses depois de ela ter contaminado a economia nacional é que se registrou significativamente a volta do desemprego e a precarização dos postos de trabalho.
Em grande medida, esse atraso na manifestação da crise internacional sobre o mercado de trabalho resulta dos chamados efeitos sazonais, que têm no quarto trimestre de cada ano as melhores condições quantitativas de emprego da mão-de-obra e no primeiro trimestre de cada ano uma situação inversa. Assim, nota-se que o comportamento do mercado de trabalho vinha registrando queda do desemprego entre fevereiro e dezembro de 2008 e alterou a rota a partir de janeiro de 2009. De lá para cá, as condições de emprego da mão-de-obra foram agravadas consideravelmente, tendo o desemprego crescido rapidamente, bem acima do verificado no mesmo período do ano passado.
De janeiro a maio de 2009, o número de desempregados cresceu 29,9% (466 mil trabalhadores) nas seis principais regiões metropolitanas. No mesmo período de 2008, a quantidade de desempregados tinha aumentado apenas 5,4% (92 mil trabalhadores). Isso se deveu ao fato de 255 mil terem ingressado na força de trabalho. Deste total, somente 95 mil (37,2%) encontraram algum tipo de ocupação. Os demais trabalhadores (160 mil pessoas) passaram, em consequência, à condição de desempregados (62,8% do total de ingressantes no mercado de trabalho).
Em relação a essas 160 mil pessoas, observa-se que quase dois terços são constituídos por pessoas na faixa etária de 24 a 39 anos de idade (100 mil), logo seguidos por trabalhadores na faixa de 40 a 55 anos de idade (33 mil), depois por pessoas com mais 55 anos (19 mil) e, por fim, por pessoas com menos de 24 anos (8 mil). Já sobre o saldo líquido no total de novas ocupações, correspondentes a 95 mil postos de trabalho, nota-se que este resultou da abertura, de um lado, de 128 mil novas vagas ocupadas por quem tinha de 40 a 55 anos de idade e mais 124 mil novas vagas ocupadas por pessoas com mais de 55 anos de idade. Ao todo 252 mil novos postos de trabalho.
De outro lado, constata-se a eliminação de 157 mil postos de trabalho. No segmento etário com menos de 24 anos, houve a diminuição de 145 mil postos de trabalho, enquanto para a faixa etária de 25 a 39 anos de idade foi registrada a redução de 12 mil ocupações. Ainda em relação ao saldo líquido de 95 mil novas vagas abertas no mercado de trabalho das principais regiões metropolitanas brasileiras, observa-se a expansão exclusiva do emprego assalariado formal.
Entre os assalariados, por exemplo, o saldo de emprego gerado no mesmo período de tempo foi de 138 mil vagas, tendo havido o aumento de 199 mil ocupações formais e a queda de 61 mil vagas informais. No caso das ocupações não assalariadas, como autônomo, conta própria e empregador, por exemplo, houve queda no total dos postos de trabalho, com fechamento líquido de 43 mil ocupações no mesmo período de tempo.
Ainda sobre a força de trabalho por faixa etária, percebem-se comportamentos muito distintos em relação à ocupação e ao desemprego. No trimestre de março/maio de 2009, em comparação com o mesmo período de 2008, nota-se a contração de 3,5% na força de trabalho para a faixa etária de 15 a 23 anos de idade. Nas demais faixas etárias houve expansão da força de trabalho. Para os trabalhadores com mais de 55 anos de idade, a expansão da força de trabalho foi 6,1%, a mais significativa no mesmo período de tempo.
Frente ao diferencial de comportamento na força de trabalho por faixas etárias nas seis principais regiões metropolitanas brasileiras, nota-se que a ocupação foi reduzida para os trabalhadores com até 39 anos de idade e aumentada para a população com idade de 40 anos e mais. Os trabalhadores com mais de 55 anos terminaram sendo os mais atingidos pelo desemprego, embora eles tenham sido beneficiados com maior expansão do emprego gerado. Os mais jovens foram os menos prejudicados, devido, por um lado, ao decréscimo da condição de atividade.
Por outro lado, a destruição de postos de trabalho informais e não assalariados se mostrou mais intensa para os segmentos de trabalhadores com até 39 anos. O saldo líquido das vagas geradas foi positivo entre março e maio de 2009, em comparação com o mesmo período de 2008, sobretudo pela forte expansão do emprego assalariado formal, uma vez que as ocupações informais e não assalariadas parecem ter sido as mais afetadas pela crise internacional.
Essa matéria é parte integrante da edição impressa da Fórum de agosto. Nas bancas.