•Clara Bisquola - imprensa CNTSS/CUT
Entre as denúncias, as principais são de uso indevido de “plantões extras” no CHS para a complementação dos ganhos do que chamam de “grupo do Dr. Ricardo José Salim”, atual diretor técnico de departamento da entidade; perseguição de funcionários com desconto na folha de pagamento; utilização de métodos agressivos; falta de negociação; assédio e violência moral; desconhecimento do Plano Diretor do CHS; a terceirização de setores lucrativos, bem como da realização de obras sem consulta prévia aos técnicos do próprio hospital, entre outras.
Conversamos com Maria do Amparo Oliveira - Diretora do SindSaúde/SP responsável pela Gestão da Seguridade Social com ênfase no SUS ( Sistema Único de Saúde).
CNTSS - Maria do Amparo qual foi o papel do SindSaúde nesta movimentação?
Maria do Amparo - Sou de Sorocaba. Foi lá que assumi a minha militância e onde também participei como diretora regional por muitos anos desde a fundação do SindSaúde e, hoje, mesmo estando com outras funções na sede, ainda tenho muito envolvimento com a região não só por residir na cidade mas, muito, por ter exercido minha função de Assistente Social no Conjunto Hospitalar.
Antes de responder à sua pergunta vamos entender um pouco a situação.
O Conjunto Hospitalar está passando por mais uma de suas crises, como outras que tivemos ao longo desses anos. Isso está ocorrendo, neste momento, por causa de uma série de fatores, que tem muita relação com a situação da Saúde no Estado: é um hospital de alta complexidade que presta uma série de serviços, até mesmo serviços de resgate, para uma região com 2 milhões de habitantes distribuída em cerca de 50 municípios.
Não é um hospital qualquer, só com terceirizações gasta perto de 20 milhões de reais, acredito ser um dos maiores gastos da CSS. O corpo de funcionários tem perto de 2.200 servidores de carreira, juntando com a “parceria” com a PUC-SP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - por ser hospital-escola que tem mais algumas centenas de alunos que circulam diariamente por aquela estrutura.
Ao longo dos anos, as diversas forças políticas locais que estão no poder acabaram em transformar o CHS num verdadeiro “caixa 2”. Os cargos são distribuídos por aferimentos políticos, contratam-se obras e serviços sem nenhum critério epidemiológico ou mesmo técnico, de engenharia. E tudo isso foi acontecendo com o beneplácito da SES-SP.
Os diretores que são indicados para o CHS ficam pouco tempo na unidade, em geral por dois anos, na maioria das vezes por indicação política partidária. Dos que me lembro, nos últimos 16 anos, trabalhando no local, só tivemos dois diretores que não tiveram essa relação e, é claro, saíram descontentes por não se sentirem contemplados com a política do governo.
Em outros hospitais escolas não encontramos os mesmos problemas que temos na relação com a PUC. Não se sabe ao certo o que esta entidade quer ou sabe fazer, no CHS fazem apenas a docência - utilizando a estrutura, material e serviços do estado - e a assistência - e os problemas de saúde da população - fica em segunda plano, sem solução.
CNTSS- E a equipe técnica?
Maria do Amparo - O restante da diretoria segue este mesmo padrão, como é o caso que estamos vivendo neste momento, o Conjunto Hospitalar é dirigido por uma pessoa que mora e vive na capital, inclusive já tem um histórico muito ruim na política do SUS, e que ao vir ocupar o cargo trouxe mais 60 pessoas para exercer funções de chefia, assessoria e direção, além de técnicos e médicos, tirando os profissionais que já estavam no hospital. Destes, os que saíram, boa parte eram concursados, outros de livre provimento e todos foram colocados à disposição e afastados.
Pense assim, Sorocaba fica a 120 quilômetros de São Paulo, mais de duas horas por dia em viagem, custo do pedágio, transporte - de ônibus são 40 reais por dia! O salário de um funcionário público, mesmo os de cima, não são tão bons assim! Dá o que pensar!
Coisas como essas tem levado o CHS a perder muito de sua qualidade de atendimento, e com isso a instituição acaba sofrendo uma rejeição popular.
CNTSS- Qual foi a proposta do SindSaúde, como agente interventor neste processo?
Maria do Amparo Já temos poucos funcionários trabalhando de fato no hospital, a pressão, normalmente, é muito grande. Para tentar minimizar a situação - tanto salarial como de trabalho - muitos servidores faziam os plantões extras.
Com a vinda desse pessoal de fora, os plantões extras reduziram-se quase à extinção para os funcionários que de fato os executavam e, às vezes até por necessidade financeira. Veja bem, em alas com 30 ou 40 pacientes você precisa de, pelo menos, 4 enfermeiras, para um atendimento razoável. Hoje trabalhamos com apenas duas e, às vezes uma só. Mas os plantões extras continuam sendo pagos...
Essa situação é um caldo em ebulição, num dado momento explode. E explodiu.
O Sindicato assumiu a direção do movimento - é seu papel político e histórico - realizando uma série de ações, primeiro para articular nossas próprias forças. Realizamos uma assembleia onde foram elencadas várias propostas, algumas para são questões imediatas e outras, as mais de acordo com o projeto que nós defendemos, que é a universalidade do SUS e a necessidade dele ser gerenciado e contratado por profissionais que sejam de carreira e da rede, queremos a instalação do Conselho Gestor, paritário, para que os procedimentos administrativos possam ser acompanhados e, assim, evitarmos que os orçamentos possam ser utilizados da maneira correta, para quem precisa, de forma democrática e transparente. E para finalizar, estamos nos mobilizando para que o atual diretor possa ser afastado.