Escrito por Clara Bisquola
Terminou ontem o seminário nacional “Mulher e Trabalho Decente”, resultado da parceria entre a CUT e a fundação alemã Friedrich Ebert (FES). Este debate ocorrido em São Paulo teve como proposta revigorar as trabalhadoras cutistas de todo país para a III Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres que ocorre em dezembro deste ano, enquanto que a de Emprego e Trabalho Decente ocorre em maio de 2012.
Entrevistamos Maria de Fátima Veloso Cunha, Secretária Relações do Trabalho da CNTSS/CUT e presidenta do SindSaúde/GO.
CNTSS- Das onze pautas levantadas ,nestes dois dias, as propostas mais debatidas foram : igualdade salarial, creches públicas de qualidade e em tempo integral, ratificação da convenção 156; e o reconhecimento dos direitos das trabalhadoras domésticas. Em sua opinião, das questões que foram levantadas, qual requer um esforço maior nas discussões.
Fátima Veloso Cunha - Todas são de extrema importância, mas independente do que já temos avançado nossa grande questão é a disparidade salarial. Em pleno século XXI a mulher, apesar de qualificada em muitas áreas mais que os homens, ganham até 70% a menos . Segundo estudos realizados aqui no Brasil, no ano de 2010 houve uma redução nesta disparidade, mas em 2011 já voltamos a ter essa enorme desvantagem salarial. E essa disparidade vai gerar na outra ponta um grande problema: essa trabalhadora vai acabar pagando um salário precarizado para as mulheres que trabalham dando suporte a sua vida familiar como é o caso das empregadas domésticas.
CNTSS - Como poderia minimizar esta precarização da mulher trabalhadora....
Fátima Veloso Cunha- O Governo garantindo creche de período integral; lavandeiras públicas; restaurantes com preços acessíveis tendo em vista o baixo salário dos trabalhadores públicos; reconhecendo os direitos das trabalhadoras domésticas. Outra grande questão e o grande contingente de trabalhadoras negras no trabalho doméstico ou no setor de serviços: manicures, cabeleireiras, faxineiras. Elas ainda são minoria nos cargos e posto de chefia. Elas continuam invisíveis e continuam tendo visibilidade em questões sérias como objeto sexual, como é o caso desta rede de tráfico de mulheres e do turismo sexual que ainda precisa de leis mais rígidas. Essa discussão é antiga, mas o mais grave é ainda continuamos sem políticas adequadas e perpetuando a discriminação das mulheres negras no universo do trabalho.
CNTSS - O que este seminário trouxe de novo para as questões das trabalhadoras da região de Goias, no seu ponto de vista?
Fátima Veloso Cunha - Pela primeira vez esta acontecendo antes das conferências e com isso preparando este coletivo de mulheres para que estejamos mais qualificadas para um embate forte e significativo que estaremos fazendo em nossos sindicatos, em nossos municípios, ou onde nos interesse estarmos disseminando nossas discussões políticas. Entre os onze pontos que foram discutidos neste seminário, nosso grupo priorizou a Convenção 156 que trata de divisão de responsabilidade entre homens e mulheres onde estaremos discutindo antes durante e depois das convenções inclusive colhendo baixo-assinado e colhendo assinaturas, para que essa Convenção seja ratificada.
Esse seminário trouxe uma nova perspectiva, um novo brilho , oxigenou a relação com o Coletivo de Mulheres da CUT que vinha vindo sem ânimo pelos enfretamentos que estava ocorrendo com a maioria de nós. Nós que somos de estados que tem governos mais da direita, como é o caso de Goiás estamos enfrentando enormes dificuldades com perdas salariais, onde se avança um passo e recua meio, com as terceirizações, com as flexibilizações dos direitos trabalhistas. Para se ter uma idéia, estamos quase na segunda quinzena de maio e ainda estamos recebendo salário dividido, ou seja , 80%. Além de ganharmos menos, com esse recebimento dividido a gente perde e perde consideravelmente. Quando participamos desses seminários e partilhamos experiências podemos averiguar que os problemas enfrentados por nós , como trabalhadoras, em suas devidas proporções são parecidos, como todas as demais companheiras de lutas.
CNTSS - As estratégias para minimizar a questão da Violência Doméstica avançaram?
A Violência Doméstica mesmo depois da Lei Maria da Penha, ela não tem sido cumprida em sua totalidade. Até juristas e juízes estão assumindo a sua inconstitucionalidade e nós estamos trabalhando para que essa lei seja cumprida, que sejam montados os juizados especializados que tenham nas delegacias de direito da mulher pessoal qualificado e estrutura, porque muitas mulheres desistem de fazer denuncia por ter que esperar horas e horas para poder ser atendida. Quero inclusive deixar registrado um fato para reflexão: quando um homem é agredido a primeira coisa que ele faz é procurar um pronto socorro ou pronto-atendimento. As mulheres, principalmente quando sofrem estupro ou violência doméstica elas fazem o caminho inverso: primeiro vão para a delegacia e depois vão procurar socorro médico, ou um atendimento médico. Por isso é fundamental delegacias com atendimento mais rápido, mais qualificado. A luta é difícil e por isso precisamos ser cada vez mais persistentes.