SÃO PAULO - O custo da internet no Brasil, embora venha caindo, ainda é alto e representa o último entrave para a inclusão digital nas camadas mais baixas. A opinião é de especialistas dos setores de telefonia e banda larga que fizeram parte da mesa de debates na maior feira e congresso de TV por assinatura da América Latina, ABTA 2010, realizada de terça até esta quinta-feira no Transamérica Expocenter, em São Paulo.
Segundo o presidente da Telebrás, Rogério Santanna, mesmo se não houvesse impostos, o pacote básico de internet de banda larga no País cairia de R$ 29 para R$ 16, o que ainda representa o dobro do valor praticado na Europa. Mesmo considerando que a questão do custo - tanto operacional quanto de manutenção e alcance da internet -, o preço final ainda é o principal entrave para a inclusão digital, disse o presidente. Segundo Santanna, as empresas precisam encontrar políticas para reduzir o valor do serviço.
"Qualquer empresa privada que queira ser parceira do governo e usar a estrutura pública pode usar. Basta baixar o preço", afirmou. Para ele, se o País não tiver estrutura barata, não vai conseguir competir internacionalmente. "O consumidor não quer saber. Se for mais barato comprar um livro no Amazon (loja virtual americana), ele vai comprar. Vai dar um emprego lá (nos Estados Unidos) e tirar um daqui", disse.
De acordo com o diretor-executivo de clientes residenciais da Telefônica, Fábio Bruggioni, a banda larga tem 33% de penetração nos domicílios brasileiros. Embora não considere o índice alto, acredita que é um avanço para um País de grande extensão, cuja entrada no mundo virtual é relativamente recente. Também presente à mesa de debates, o responsável pelo Plano de Banda Larga Americano da Federal Communications Commission (FCC), Carlos Kirjner, disse que 70% da população dos EUA tem o serviço, sendo que 95% dos americanos têm, pelo menos, um provedor de internet ao qual eles podem se conectar.
Kirjner acredita que os impostos são usados pelas operadoras como justificativa do alto valor da banda larga e, portanto, a ainda baixa penetração dela no Brasil. "Eles são o tapete usado pelas operadoras para esconder outros valores embutidos no valor do serviço", afirmou o palestrante.
"Temos que lembrar que 20% dos brasileiros vivem com menos de um salário mínimo por mês, então, se quisermos ter inclusão digital, é fundamental que governo e iniciativa privada invistam nas classes C e D", disse o palestrante. Ele atribui o êxito do modelo americano de banda larga, que teve investimento de R$ 15,3 bilhão, à herança do modelo de telefonia, que deu certo nos EUA, e ao foco em adoção de todas as classes sociais, disponibilidade de rede e competição entre as empresas.
Bruggioni, por sua vez, lembrou que o custo da internet no País vem caindo gradativamente. "Há alguns anos, 1 MB custava R$ 200, hoje, esse mesmo pacote custa R$ 50", afirmou. Segundo ele, nos últimos seis meses, 75% da banda larga no Brasil foi comprada pelas classes C e D. Ele considera como causas o aumento da cobertura, a capacidade das operadoras de conhecer o perfil dos compradores e atender suas necessidades específicas, os incentivos fiscais, as parcerias público privadas (PPPs) e, principalmente, à redução de preço.
Segundo o presidente da Telebrás, a ideia é reduzir o pacote de 256 KB, que hoje custa em média R$ 96, para um terço deste valor e o dobro desta velocidade em todas as cidades brasileiras. Até o final do ano, a previsão é que todos os domicílios de 100 municípios e 15 capitais, além do Distrito Federal, sejam alcançados. Para o presidente, é indispensável o papel da concorrência na expansão: "Onde tem concorrência tem competitividade de preço e, portanto, tem adesão", afirmou.
Também participaram do painel o diretor de produtos e serviços da Net Serviços, Márcio Carvalho, e o vice-presidente do conselho da Acom Comunicações, João Reino.