A greve dos médicos-assistentes do HC de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo) e, agora, a paralisação de parte dos servidores têm superlotado outras unidades da cidade que atendem pelo SUS. A paralisação ameaça ainda a produção científica da USP (Universidade de São Paulo).
Devido à greve, os médicos do HC estão atendendo só casos de urgência e emergência e, por isso, paciente que não é classificado dessa forma tem consulta remarcada ou procura outras unidades, como a Santa Casa e a Beneficência Portuguesa.
O diretor-técnico da Beneficência, José Victor Nonino, disse que a entidade tem trabalhado com até 20% mais pacientes que a capacidade.
Ele afirmou que isso acontece porque, normalmente, os hospitais da cidade já trabalham com ocupação total. "Quando acontece qualquer coisa fora do comum, há essa superlotação."
A paralisação ocorre porque a categoria quer equiparação com profissionais da Mater e do Hospital Estadual, que recebem o dobro.
O provedor da Santa Casa, Amauri Calil, também confirma a ocupação acima da capacidade. "Temos cerca de 200 leitos e sempre estão ocupados, mas agora estamos muito mais lotados. A greve [do HC] contribui para que isso aconteça", disse.
Calil e Nonino afirmam que, como o sistema de leitos do município está "no limite", outros fatores também influenciam na lotação. A ocorrência de dengue e a mudança no clima, que aumenta os casos de doenças respiratórias, são exemplos.
O médico-assistente Ulysses Strogoff de Matos, membro do comando de greve do HC, afirmou após assembleia ontem de manhã que não há previsão para que os profissionais retomem as atividades integralmente.
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Sem a equiparação salarial pedida pela categoria, a tendência é que profissionais peçam demissão do hospital, segundo médicos disseram à Folha. Isso também poderia trazer impacto para a produção científica da USP, de acordo com Matos.
Os médicos-assistentes também orientam residentes e estudantes da universidade. De acordo com os grevistas, há duas semanas essas atividades também estão suspensas.
A administração do HC afirmou ontem que o movimento não interfere nas atividades acadêmicas, já que docentes e alunos também atuam na orientação.
As reivindicações dos médicos e servidores, entre eles enfermeiros e auxiliares, que decidiram parar as atividades ontem e hoje, foram enviadas para a Secretaria de Estado da Saúde, de acordo com o hospital.