Nos meses anteriores aos furtos promovidos por crianças na Vila Mariana, Paraíso e Itaim Bibi, a Prefeitura de São Paulo fechou centros especializados em receber jovens recém-chegados das ruas.
Especialistas dizem que essa é uma das causas "aliadas a problemas crônicos de inclusão social" para o aumento de delitos cometidos por crianças em grupo, algo incomum nessa faixa etária.
Em toda a capital, há 2.000 jovens nas ruas, 449 com menos de 12 anos, segundo levantamento de 2010, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
Até novembro de 2010, quando começaram a ser fechados, havia 15 Centros de Referência da Criança e do Adolescente (Crecas) e 117 abrigos em São Paulo.
Os primeiros, mais conhecidos como "casas de passagem", serviam para abrigar as crianças temporariamente -de uma semana a seis meses - até que fossem reinseridas na família ou levadas a um abrigo permanente, onde ficam por até dois anos.
A prefeitura foi instada pela Justiça a fazer readequações nos Crecas, separando as crianças mais novas dos adolescentes. Em vez disso, preferiu extingui-los e criar o mesmo número de abrigos.
"Esse é o pano de fundo para a ampliação dessas situações de furto", afirma Ariel de Castro Alves, vice-presidente da comissão de criança da OAB.
Uma conselheira tutelar que prefere não se identificar diz que o fechamento dos Crecas dificultou a adaptação das crianças. "No abrigo tem que estudar, seguir horários e regras. Nem todos em situação de rua aceitam."
"Hoje tem criança chegando algemada em abrigo e isso gera uma violência interna péssima para os que já estão lá", reclama o vereador Floriano Pesaro (PSDB), que criou os Crecas quando foi secretário de Assistência Social, na primeira gestão de Gilberto Kassab.
O serviço, da forma como estava, também sofria críticas. "Nos últimos tempos era mais uma `faxina` das ruas", diz José Geraldo Pinto, 47, que era coordenador pedagógico do Creca no Ipiranga, fechado em junho. "Mas agora ficou um vácuo."
OUTRO LADO
A Secretaria Municipal da Assistência Social nega que o fechamento dos Crecas tenha causado prejuízo ao atendimento das crianças de rua, porque o número de vagas foi mantido. "A secretaria mantém equipes permanentes de orientadores sociais realizando serviços de abordagem em todas as regiões da cidade."