Há falta de médicos e remédios nas unidades de saúde.
Depois que o pronto-socorro do Hospital Santa Marcelina fechou as portas, os milhares de pacientes atendidos no lugar começaram uma peregrinação pelos hospitais da região.
No pronto-socorro do hospital de Ermelino Matarazzo, muitas pessoas desistem de esperar por um médico mesmo passando mal. Marcela, que estava com tosse e dor no corpo, ficou muito nervosa ao saber que havia mais de 30 pessoas para serem atendidas.
A situação é pior para quem precisa de um ortopedista, especialidade que não há no atendimento de emergência. “Mandaram eu ir lá para o Tide, em São Miguel”, diz a pensionista Jessina Pereira.
A dona Anir foi com o marido ao Hospital Tide Setúbal, em São Miguel Paulista, porque ele não conseguiu atendimento em outras unidades da região. “O dia inteiro, desde manhã, estou verde de fome”, reclama.
O Hospital Tide Setúbal foi a quinta unidade de saúde em que a diarista Ana Maria Ramos procurou por remédio para a mãe, diagnosticada com broncopneumonia. “Já fui no AMA do Jardim Helena, já fui no Jardim Maia, já fui na Nita Operária, fui no Tito Lopes. É o quinto lugar que eu venho e ela precisa dessa medicação hoje”, afirma.
No Tide Setúbal, ela também não conseguiu nada. Já era noite quando a irmã dela chegou ao AMA do Parque Paulistano, onde a mãe das duas recebeu remédio para apenas quatro dos 14 dias de tratamento. “Vou passar novamente no médico para ver o que eles fazem a respeito”, diz a comerciante Vera Ramos.
Para o sindicato dos médicos, a situação da Zona Leste é complicada porque faltam hospitais e os profissionais não querem trabalhar lá.
“Há profissionais estressados pela jornada de trabalho extenuante e recebendo pouco por essas jornadas. Isso reflete na vida dos profissionais que estão ali. Eles acabam saindo do hospital. Há momentos em que eles não suportam mais essa situação”, afirma João Paulo Cechinel, secretário do Sindicato dos Médicos de São Paulo.
A Prefeitura diz que os hospitais municipais estão sofrendo o impacto do fechamento do pronto-socorro do Hospital Santa Marcelina, o mais importante da Zona Leste. E afirma que os pacientes da região devem continuar prejudicados enquanto o atendimento na região não voltar ao normal.
"O volume de atendimento fica na ordem de cerca de 30 mil por mês. Quando faço um rearranjo disso nos nossos hospitais, isso vai produzir um impacto”, diz José Maria Da Costa Orlando, secretário-adjunto de Saúde.
Enquanto o problema persiste, os pacientes buscam soluções que não são recomendadas pelos médicos, como fez Marcela. “Vou tomar uma injeção na farmácia porque não vou ficar esperando. Eu perdi já três dias de serviço.”
Sobre a falta de ortopedista no hospital de Ermelino Matarazzo, a Secretaria Municipal da Saúde diz que o hospital tem três ortopedistas nos atendimentos de urgência e emergência. A respeito da paciente que sofre de broncopneumonia e estava sem medicamento na terça, a secretaria diz que ela foi medicada nesta quarta-feira (24).
A assessoria de imprensa do Hospital Santa Marcelina informa que o pronto-socorro foi fechado por causa da superlotação e que não há previsão de reabertura. A Secretaria Estadual da Saúde informa que já ajuda financeiramente o Santa Marcelina, com repasses extras por mês, e que procura uma solução para a crise do hospital.
A Promotoria de Justiça de Saúde Pública da capital instaurou um inquérito civil para apurar o fechamento do pronto-socorro do Santa Marcelina.