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As seis décadas da televisão brasileira

22/09/2010

Escrito por: ALESP

As seis décadas da televisão brasileira Antônio Sérgio Ribeiro*

O início da televisão no Brasil aconteceu oficialmente no dia 18 de setembro de 1950, quando o Canal 3 de São Paulo, com antena e estúdio instalados no bairro paulistano do Sumaré, transmitiu a imagem da atriz Yara Lins proferindo as seguintes palavras: "Senhoras e senhores telespectadores, boa noite. A PRF 3 TV " Emissora Associada de São Paulo orgulhosamente apresenta neste momento o primeiro programa de televisão da América Latina". Assim se tornava realidade o maior projeto do jornalista Assis Chateaubriand.


A televisão brasileira entra no ar
Na noite da segunda-feira, 18 de setembro de 1950, uma seleta plateia aguardava ansiosamente nos luxuosos salões do Jockey Clube de São Paulo, onde foram colocados alguns aparelhos receptores para a primeira transmissão de um canal de televisão no Brasil e na America do Sul. O anfitrião, jornalista Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, proprietário dos Diários e Emissoras e Associados, a mais poderosa cadeia jornalística do país, recebeu seus 200 ilustres convidados para um jantar. Entre eles estava o presidente do Conselho de Administração da Rádio Corporation of America, a famosa RCA, David Sarnoff, que havia vendido os equipamentos para Chateaubriand.

O general-brigadeiro David Sarnoff, elevado a esta condição, em 1944, pelo presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt, por sua destacada participação na Segunda Guerra como chefe de comunicações do general Dwight Eisenhower, chefe das tropas aliadas na Europa, veio especialmente de Nova York para a capital paulista para participar do memorável evento.

Em seu discurso, Sarnoff afirmou: "sinto-me profun¬damente grato por esta oportunidade de saudar o povo brasileiro e formular minhas mais sinceras congratulações pela inauguração, em São Paulo, da primeira estação televisora do Brasil. Este é, sem dúvida, um momento de grande significação, não só para aqueles que vivem nesta bela e febricitante cidade de São Paulo, mas para todos os povos deste grande hemisfério. Porque ele anuncia o início de um dos mais importantes papéis reservados à televisão: aquele de ampliar o conhecimento humano e contribuir para o melhor entendimento entre os povos separados por barreiras geográficas. A televisão dá asas à imaginação, e eu já prevejo o dia em que poderemos percorrer com os olhos toda a terra, de cidade em cidade, de nação a nação, com a mesma facilidade com que podemos ouvir hoje as irradiações de todos os países do mundo. Deste auspicioso começo em São Paulo, a televisão pode tornar-se a voz e o olhar das Américas, salvaguardando e fortalecendo nossos princípios democráticos. O desenvolvimento da televisão na America do Norte tem sido fenomenal. Tive o privilégio de inaugurar o serviço de televisão na Feira Mundial de Nova York, em abril de 1939. Naquela ocasião, só havia uma estação televisora no ar com programas regulares, e apenas algumas centenas de receptores. A Segunda Grande Guerra interrompeu a expansão da televisão. Não obstante, hoje, menos de cinco anos depois do conflito, há mais de 100 estações em nossas principais cidades, e mais de 7 milhões de nossas famílias possuem receptores em seus lares. Aproxima-se rapidamente o dia em que teremos cadeias de estações televisoras estendendo-se de costa a costa dentro de nossas fronteiras e além, tornando possível o intercâmbio de programas com nossos amigos do Canadá e da América Latina. Posso assegurar-vos que teremos o maior prazer num intercâmbio de programas com o Brasil. Vossa grande estação de televisão, Emissoras Associadas TV em São Paulo, tem tremendas possibilidades. A RCA sente-se feliz e orgulhosa em ter sido escolhida para participar de vosso esforço pioneiro, fabricante deste transmissor e equipamento de estúdio. Foi uma grande honra poder servir-vos, e é realmente inspirador saber que as Emissoras Associadas de TV nascem como um farol de progresso através das Américas".

Canal 3 de São Paulo
Do Sumaré seria transmitido o programa inaugural da primeira emissora de televisão da América do Sul - o canal 3 de São Paulo, marcado para as 21 horas, mas imprevistos atrasaram o início, para desespero daqueles que aguardavam no Jockey ao lado de Assis Chateaubriand que estava muito irritado com a demora, e exigia a cada cinco minutos que ligassem para o estúdio para saber o que ocorria.

Os problemas eram vários, mas o pior é que uma das três câmeras havia pifado, e tudo foi reformulado às pressas. O engenheiro Obermuller entendeu que deveriam adiar para o dia seguinte a transmissão, mas, quando da recusa de Dermeval Costa Lima, diretor artístico, e do jovem Cassiano Gabus Mendes, diretor de produção, o americano pegou suas coisas e foi embora, contrariado, para o hotel onde se hospedara.

Finalmente, às 22h, com uma hora de atraso, na segunda-feira, 18 de setembro de 1950, a atriz Yara Lins proferiu as seguintes palavras: "Senhoras e senhores telespectadores, boa noite. A PRF 3 TV " Emissora Associada de São Paulo orgulhosamente apresenta neste momento o primeiro programa de televisão da América Latina".

Esse primeiro programa transmitido pela emissora ao público chamava-se "TV na Taba", sendo que o apresentador Homero Silva recebeu dois visitantes, explicando-lhes a utilidade da televisão, veiculo que levava cantores para dentro dos lares. Lolita Rodrigues cantou o Hino da Televisão, com uma enorme bandeira paulista ao fundo, substituindo a cantora Hebe Camargo, que tinha um compromisso sentimental que não quis adiar.

Assis Chateaubriand pediu a Guilherme de Almeida, o Príncipe dos Poetas Brasileiros, que fizesse a letra de um hino para a televisão, fazendo alusão à fundação da cidade de São Paulo e a Anchieta; ao indiozinho da Tupi, que era o logotipo da emissora; e à bandeira das 13 listras do Estado de São Paulo, em preto, branco e vermelho, que preconizava a TV colorida.

Com música do compositor Marcelo Tupinambá, coube a Lolita Rodrigues, conhecida como La Salerosa, que na ocasião tinha 21 anos de idade, interpretar a música. Como contratada das Rádios Associadas, Lolita cantava músicas espanholas, e 60 anos depois ela lembrou: "Eu estava tão entusiasmada. Eu fui com o meu vestido de formatura".

Homero Silva didaticamente foi explicando a utilização, para seus convidados no estúdio e para o público que assistia curioso nos poucos aparelhos de televisão, o novo meio de comunicação que chegava em terras brasileiras. Fazia rir, com um número cômico de Amacio Mazzaropi; podia mostrar o esporte, com o radialista Aurélio Campos que falava sobre futebol; e divulgava o teatro, com os atores Walter Forster e Lima Duarte. Foi apresentado também um número de balé clássico, com Lia Marques. Às 23h, quando terminou o programa, a equipe das Associadas, que havia ensaiado durante 20 dias, encontrava-se diante de um angustiante problema: o que fazer no dia seguinte? Curiosamente nada havia sido preparado.

Tudo ao vivo
O início da televisão brasileira foi marcado pela improvisação, mas na noite seguinte ia ao ar o primeiro telejornal, denominado de "Imagens do Dia", escrito pelo jornalista Rui Resende minutos antes da transmissão, e apresentado pelo locutor Ribeiro Filho. Toda a programação era realizada ao vivo, o vídeo tape só chegaria ao Brasil no início da década de 1960, sendo utilizado primeiramente no Rio de Janeiro pela TV Continental, canal 9, quando a equipe formada por Carlos Pallut, Riva Blanche e Haroldo Costa, foram gravar as primeiras imagens na pérgula do hotel Copacabana Palace, às 15h, que foram ao ar às 21h do mesmo dia. Depois disso, pela TV Rio, no programa Chico Anísio Show, por sugestão do diretor Carlos Manga, o humorista Chico Anísio apareceu contracenando com ele mesmo, também por meio do tape.

Os primeiros anúncios na televisão eram levados ao ar pelas garotas-propaganda que apresentavam ao vivo os produtos dos patrocinadores. Em São Paulo, a primeira foi Rosa Maria, que fazia comerciais para a Marcel Modas no programa humorístico "A Bola do Dia", e na Tupi Rio por Haydée Miranda, que divulgava os produtos da indústria carioca Varma.

A pressa fazia as moças cometerem gafes, como em um comercial da Probel, quando a garota devia demonstrar a "facilidade" com que um sofá se transformava em cama. Diante das câmaras, porém, o sofá enguiçou. Depois de uma autêntica luta livre entre a moça e o sofá, veio um bombeiro auxiliá-la, conseguindo finalmente abrir o sofá. Devido ao pequeno número de televisores (e de telespectadores), as propagandas na TV eram muitas vezes oferecidas como brinde aos anunciantes pela direção dos Associados. A programação da Tupi ia ao ar inicialmente das 18h às 23h.

Ainda no ano de 1950, foram contratados os palhaços Fuzarca e Torresmo, para o programa "Circo na TV", que teria a participação de Walter Stuart com patrocínio da Bombril.

Por conta do imenso elenco de cantores e músicos das Emissoras Associadas, a televisão não teve problemas em adaptá-los ao novo veículo, como ocorreu com Hebe Camargo e Ivon Curi, que, de rosto colado, entoaram com olhar maroto: "Hoje juntinhos,/ Que beijos nós vamos trocar!/ Não tem ninguém perto,/ E a noite é de luar..."

Em novembro de 1950, Cassiano Gabus Mendes dirigiu o primeiro teleteatro, adaptando o enredo do filme norte-americano A Vida por um Fio (Sorry, Wrong Number), de 1948, estrelado por Barbara Stanwyck e Burt Lancaster. Nessas gravações ao vivo, se algum ator se atrapalhasse nada podia salvá-lo. Foi o caso de Alberto Maduar e Nelson Coelho, que certa vez representaram um duelo. Dando um passo em falso, um deles derrubou o cenário veneziano. O câmera man desviou-se do desastre e procurou focalizar em close só o rosto dos atores. Mas eles estavam tendo um acesso de riso... nervoso.

Outro programa que aproveitou o elenco de cantores das Emissoras Associadas foi "Desfile Musical Jardim", produzido por Ribeiro Filho, no qual os intérpretes participavam cantando seus sucessos da Música Popular Brasileira. Artistas estrangeiros também faziam sucesso, como a "rumbeira" cubana Rayito del Sol. Durante sua transmissão, a diretoria da TV Tupi recebeu um telefonema da família Whitaker, da qual uma integrante era diretora da revista O Cruzeiro, dos Associados, reclamando dos "requebros indignos de entrar em casa de família".
Imediatamente, Chateaubriand deu a ordem de substituir os requebros pela imagem de Dome Pedrito, responsável pelo batuque. Rayito del Sol foi mostrada apenas à distância. "A família Whitaker manda", disse o diretor da emissora Dermeval Costa Lima.



Hino da Televisão


"Vingou como tudo vinga
No teu chão Piratininga,
A cruz que Anchieta plantou.

Pois dir-se-á que ela hoje acena
Por uma altíssima antena
Por uma altíssima antena

A cruz que Anchieta plantou!

E te dá num amuleto
O vermelho, branco e preto
Das pernas do seu cocar.
Das penas do seu cocar
E te mostra num espelho
O preto, branco e vermelho
Das contas do teu colar.
Das contas do teu colar


*Antônio Sérgio Ribeiro é advogado, pesquisador e diretor do Departamento de Documentação e Informação da Assembleia.

Foto - 02 - Amacio Mazzaropi e Geny Prado
Foto - 03 - Yara Lins, a primeira imagem feminina da TV brasileira
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