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Desemprego ainda é grande problema de EUA e Europa, diz Ipea

23/03/2012

Levantamento feito pelo instituto aponta o desemprego como a principal consequência da crise de 2008 para Estados Unidos e Europa.

Escrito por: Vinicius Mansur - Carta Capital

Estudo revela as diferentes performances destes países na geração de empregos e destaca que, especialmente na Europa, saem melhor da crise os Estados que mais mantém a proteção ao trabalho e ao trabalhador.

 

Brasília - O comunicado “Evolução do mercado de trabalho nos EUA e Europa em decorrência da crise econômica”, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) nesta quinta-feira (22), aponta o desemprego como a principal consequência da crise de 2008 para os países situados no centro capitalista.

Na Europa, o estudo divide os impactos por regiões. Enquanto os países do Norte e do Leste apresentam um padrão de estabilização tendendo à melhora, os países do Sul do continente, aos quais se soma a Irlanda, vivem uma situação dramática.

Nestes países verifica-se um aumento ininterrupto do desemprego entre 2008 e 2011, quando o índice saiu de 8,4% - relativo à População Economicamente Ativa (PEA) - para 15,1%. As taxas mais dramáticas são da Espanha, 21,7%, da Grécia, 17,4% e da Irlanda, 14,4%. 


No leste europeu o desemprego chegou a 11,1% em 2010, mas caiu para 9,6% no final de 2011, índice ainda bem acima dos 6,9% pré-crise.

No norte, o desemprego aumentou de maneira menos crítica, saindo dos 5,2% em 2008 para 6,8% em 2011.

Fato interessante é que em toda a Europa, ao contrário da maior parte do mundo, não há diferenças expressivas em termos de taxas entre homens e mulheres. “A grande clivagem na Europa é entre gerações. As taxas dos jovens [de 15 a 24 anos] são mais do que o dobro das verificadas no conjunto da população, chegando a mais de 40% na Espanha”, afirma o pesquisador do Ipea, André Campos. 


Estados Unidos

Nos Estados Unidos, a saída da crise de 2008 se deu do primeiro para o segundo semestre de 2009, quando o PIB do país voltou a crescer, atingindo os patamares pré-crise em 2011. Entretanto, “esse crescimento é ainda muito frágil por estar calcado em bases muito desiguais. A taxa de desemprego está caindo muito gradualmente, mas se encontra muito acima do que em 2008”, adverte o pesquisador do Ipea.

O estudo mostra que, nos últimos 12 meses, 1,7 milhão de novos empregos não agrícolas foram criados nos EUA, chegando a um total de 132,4 milhões de pessoas nestes postos. Porém, o número é bem inferior aos 138 milhões do início de 2008. Em janeiro deste ano, o país registrou em 15,2% a taxa de desemprego total, que adiciona os trabalhadores em tempo parcial e aqueles marginalmente ligados à PEA. 

O documento também alerta para a severidade do desemprego estadunidense. Em janeiro de 2012, cerca de 42% dos desempregados estavam procurando emprego há mais de 6 meses, taxa muito acima de 2007, quando se situava entre 15 e 20%. “É um ponto particularmente tenso, porque o seguro-desemprego normalmente só cobre 26 semanas; legislações aprovadas durante a crise estenderam tal período para 99 semanas, e a sua renovação está em discussão neste momento”, conclui o Ipea.

Importância do Estado

“Os Estados que estão conseguindo manter as políticas do welfare state conseguem sair da crise na frente porque conseguem manter a demanda interna”, concluiu Campos.

Diante da crise econômica mundial, o pesquisador disse que os países centrais, sobretudo os europeus, veem a queda da demanda externa diminuir os postos de trabalho em sua agropecuária, indústria e construção, tornando o setor de serviços - portanto a demanda interna - o principal polo de geração de empregos, um fato inédito. “Verificamos que a saída [da crise pelos países centrais] continua calcada no consumo pelas famílias. Os Estados em que há um desmonte das políticas de regulação e proteção laboral, da remuneração, uma nova rodada de flexibilizações dos contratos e das condições de trabalho, etc, não se encontram em condições de adotar essa saída. Isso só corrobora que o consumo das famílias é cada vez menos”, concluiu.

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