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NOTA DE REPÚDIO DA CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES

24/01/2012

À VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES OCORRIDA NO PROGRAMA BIG BROTHER BRASIL 12

Escrito por: CUT

 A Central Única dos Trabalhadores considera que houve omissão do Estado por não ter tirado do ar o programa de TV Big Brother Brasil, da Rede Globo, até que as investigações sobre o suposto estupro, transmitido ao vivo, fossem realizadas. Em nossa legislação não há distinção entre abuso sexual e estupro, logo, o fato do participante ter mantido relações sexuais com uma pessoa desacordada, sem que ela pudesse consentir, sem dúvidas é um caso de abuso sexual. A violência foi flagrada por milhares de telespectadores no Brasil e em vários países.

Assim como outras emissoras, a Rede Globo utiliza-se de concessão pública de canais para veicular seus programas, portanto, é inadmissível que a Globo, ao ser acusada de um crime fique isenta de responder por ele publicamente e se restrinja a nomear uma suspeita de estupro de “comportamento inadequado”! A conivência e cinismo da emissora e o fato de o Estado não responsabilizá-la diante do ocorrido, demonstra o quanto é necessário e urgente avançarmos no processo de regulação da mídia em nosso país.

 Desde o momento em que essas cenas foram ao ar, inúmeras manifestações de repúdio começaram a circular nas redes sociais. Mediante a isso, o vídeo foi retirado dos arquivos do Youtube, talvez por um suposto acordo entre a Globo e o Google. No mesmo dia, a emissora reprisou a cena editada, provavelmente para transformar as denúncias de suspeita de crime em mais uma cena sensual comum do programa.

 Após muitas mobilizações realizadas por meio das redes sociais, feita por mulheres, movimentos sociais, pessoas indignadas e por instâncias do Estado (SPM, Polícia Civil, Ministério Público), a Globo, sem saída, teve que expulsar o participante mas, ainda assim, sob o argumento de “um grave comportamento inadequado”. Ao considerar a atitude do participante como “comportamento inadequado”, a emissora reproduziu a visão machista e patriarcal reinante em nossa sociedade, que ignora que a violência sexual, considerando-a como uma manifestação de poder do homem sobre a mulher e não um comportamento fora do padrão – no caso, um crime.

A Rede Globo cometeu dois erros graves:

1) Omissão de socorro: com tantas câmeras, tantos profissionais envolvidos, por que não houve nenhuma intervenção que coibisse o ato criminoso? As pessoas que estavam ali assistindo a tudo consideraram esse comportamento natural?

2) Reforça o papel tradicional atribuído às mulheres que ocorre em relação à divisão sexual do trabalho, mas também em relação ao seu comportamento e sexualidade. E quando o debate entra nessa seara, para a vítima virar ré é um passo. Começa-se a buscar justificativas morais e comportamentais para amenizar o crime. Nesse momento o modelo de Maria se contrapõe ao de Eva e o conservadorismo da sociedade exibe sua face, e mostra que o lugar de mulher é em casa, que ela não deve beber, não deve usar roupas curtas ou transparentes e dormir com um homem em uma mesma cama equivale, necessariamente, a ter que manter relações sexuais com ele, com ou sem consentir.

Em caso de violência contra a mulher é muito comum sugerirem a possibilidade de que a vítima tenha “facilitado”, tentando responsabilizá-la pelo crime. A discussão sobre violência perde força e o que vem à tona é um suposto comportamento desregrado das mulheres.

O combate à violência sexista e ao machismo fazem parte da plataforma da CUT para a classe trabalhadora, sendo objeto de inúmeras campanhas, inclusive com outras centrais sindicais do Cone Sul e, junto com a Confederação Sindical dos Trabalhadores das Américas, estamos participando da campanha contra o assédio sexual nos locais de trabalho. Para nós, somente haverá modelo alternativo de desenvolvimento se houver relações sociais livres de sexismo, racismo e homofobia. Por isso, repudiamos a omissão do Estado, da Rede Globo e a continuidade de um programa que naturaliza a violência contra a mulher, e exigimos a imediata apuração e julgamento desse ato de violência.

O silêncio é cúmplice da violência. Violência contra a mulher não é o mundo que a gente quer.

 

São Paulo, 23 de janeiro de 2012

 

Artur Henrique         Quintino Severo          Rosane Silva                                  Rosane Bertotti

Presidente                  Secretário-geral           Sec. da Mulher Trabalhadora     Sec. Comunicação

 

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