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Alerta aos Médicos e à População

Escrito po: Fonte – Site STEPHEN KANITZ

28/09/2009

Os custos médicos e de saúde estão aumentando assustadoramente no mundo todo. Nos Estados Unidos crescem 15% ao ano e já correspondem a 15% do PIB, e com o envelhecimento da nossa população um dia...


Stephen Kanitz

Isto não significa que médicos ganharão mais com este crescimento, pelo contrário. Médicos que já recebem mal vão receber cada vez menos e terão problemas médicos cada vez mais difíceis nas suas mãos para resolver. Isto já vem ocorrendo nos últimos 10 anos no Brasil e é a razão da deterioração do atendimento geral em medicina.

Honorários médicos são cada vez mais uma parcela menor do custo de medicina, o grosso dos dispêndios vai para hospitais, remédios, exames clínicos, serviços de enfermagens e seguros contra erros médicos. E no fundo, todos estes agentes concorrem entre si neste orçamento geral cada vez mais limitado.

Culpar as empresas de seguro-saúde ou o governo por esta situação é não entender corretamente o problema. E por não entenderem o problema, a maioria das medidas tem sido no sentido de manter uma constante pressão para redução de custos, o que só piora a situação.

Precisamos entender o problema real por trás destes problemas, porque atualmente médicos, hospitais, laboratórios e seguros-saúde estão numa guerra de todos contra todos, cada um tentando repassar o prejuízo para o outro. NINGUÉM está ganhando dinheiro nesta área crítica para o futuro da humanidade, ao contrário do que a maioria dos intelectuais deste país acredita.

As companhias de seguro estão tecnicamente quebradas, no sentido de que não estão provisionando os custos médicos que terão no futuro com seus clientes à medida que vão envelhecendo.

Muitos vivem no regime de caixa e não no regime de competência, o mesmo erro do nosso sistema de previdência. Não estão levando em conta que velhos gastam de 8 a 30 vezes mais do que gasta um jovem, então não se surpreenda quando seu seguro-saúde quebrar justamente quando você mais precisar dele.

Estima-se que 50% do orçamento médico durante uma vida é gasto nos últimos 2 a 4 anos de vida, nada disto está provisionado.

Não resolvido este problema grave, a qualidade do atendimento médico neste país cairá continuamente, como já está caindo, razão da minha preocupação que é compartilhada por todo cidadão brasileiro.


O Conceito de Seguro-saúde mudou.


O cerne do problema é o conceito de seguro-saúde.

Seguro-saúde, seja governamental ou privado, não tem o mesmo sentido como antigamente, com os contínuos avanços da medicina.

Antigamente, poucos tinham doenças que poderiam ser de fato curadas. A maioria das doenças era incurável, por isto 50% dos custos médicos eram gastos nos últimos dois anos de vida.

Na época, seguro-saúde era poupar ao longo da vida para poder pagar pela doença que no fundo o levaria daqui. Por isto, os primeiros a entrarem no ramo de seguro-saúde foram os bancos, porque era mais uma questão financeira do que médica. Eles recebiam as mensalidades ao longo dos anos e só devolviam a maior parte no fim da vida do segurado, nem precisavam entender muito de medicina.


Os avanços na medicina mudaram esta lógica do seguro-saúde.

Hoje, 80% terá as chamadas doenças sérias, caras e de longo tratamento como câncer e coração. Ou seja, não haverá seguro-saúde que aguentará sucessivas doenças sérias e caras, mas que agora salvam o cliente.

Mais dia menos dia, todos nós teremos uma doença séria e cara. Portanto, não faz sentido pagarmos enormes quantias em dinheiro ao seguro-saúde para recebermos de volta as mesmas enormes quantias.

O famoso cálculo atuarial, onde todos pagam pelos tratamentos caríssimos de alguns, não vale mais. Todos nós teremos eventualmente um tratamento caríssimo.

Para que pagar custos administrativos das companhias de seguros, comissão de venda, despesas de fiscalização, custos de inadimplências, fraudes médicas e ainda pagar os “lucros exorbitantes” de empresas de seguro-saúde segundo alguns, se todos nós teremos as mesmas doenças graves e custosas nas nossas vidas?

No fundo o que mudou é que não estamos comprando mais saúde, e sim longevidade.

Longevidade e Seguro-saúde são dois conceitos diferentes.

Não estou sugerindo o fim do setor de seguro-saúde, mas sim alertando o consumidor e segurado que existe uma nova componente na equação que não está sendo contemplada. A distinção entre garantir saúde para todo mundo e garantir longevidade para todos.

Hoje, por erro de percepção do verdadeiro problema, as companhias de seguro-saúde estão sendo obrigadas a pagar não somente a saúde, mas também a natural erosão e deterioração do corpo humano, como pontes safenas, hipertensão arterial, que não são doenças adquiridas mas sim o curso natural da deterioração do corpo humano.

Na hora da encrenca, o segurado não quer saber de nada além da solução do problema, mas isto não é possível se não tivermos pagado ao longo dos anos os valores necessários para tal.

O que os economistas da área da saúde, nossos jornalistas que cobrem a área e os clientes que compram seguro-saúde não estão percebendo como já foi dito, é que agora não estamos mais comprando seguro-saúde e sim longevidade humana. E longevidade não tem preço. Ou pelo menos, o preço será sempre maior do que aquilo que nós poupamos ou estamos dispostos a pagar.

Quando economistas sugerem e conseguem a proibição do aumento de preços de toda a área médica, eles estão reduzindo a longevidade, o contrário do que pretendem, por não perceberem esta nova realidade.

Ao querer proteger você dos médicos e do sistema de saúde, o governo está reduzindo a sua longevidade, de forma lenta e sem que ninguém perceba. Ao exigirem que seguros-saúde cubram doenças que antes não existiam porque todo mundo morria antes, o governo deixará a população sem longevidade e sem saúde também.

A expectativa média de vida em 1960 era de 60 anos, agora é de 72, ou seja, aumentou 12 anos, justamente na faixa em que existe a maior incidência de falhas do organismo. Este aumento de 20% de expectativa de vida gera um aumento de mais do que 50% de aumento nos custos dos seguros, mas estes estão proibidos de cobrar este aumento.

Na questão de longevidade os gastos médicos são infinitos, ao contrário das doenças que são finitos e até a pouco calculáveis por técnicas atuariais. Você poderia gastar milhões de dólares reparando as degenerações naturais do corpo humano, como pode fazer um trilhardário. Mas, o governo e as companhias de seguro não podem nos tratar como se cada um de nós tivéssemos os recursos financeiros ilimitados.

Pelo menos em teoria, todos nós poderemos num futuro bem próximo comprar a longevidade que quisermos, até certo ponto, basta poupar o dinheiro necessário para tal durante sua vida produtiva.

Quem quiser viver até os 80 simplesmente terá de pagar os exames preventivos necessários, tomar os remédios adequados e arcar com os gastos necessários de, digamos, R$ 100.000,00.

Quem quiser viver até os 90 provavelmente terá de pagar um adicional, R$ 150.000,00, o custo de um transplante de rim e uma ponte safena.

Quem quiser viver até os 100 provavelmente terá de gastar algo em torno de R$ 500.000,00 ou mais, para trocar vários órgãos e assim por diante.

Só que estes cálculos acima não fazem o menor sentido num plano de saúde, nem queremos que planos de saúde façam estes cálculos por nós. Não é o espírito do contrato, nem tampouco poderemos fazer contratos de saúde diferenciados para quem quer viver 80, 90 ou 100 anos. Ninguém pode garantir longevidade contratualmente.

Decidir quanto dinheiro você está disposto a gastar para aumentar sua própria vida não é mais uma decisão de saúde nem uma questão médica. Ë uma questão financeira, o quanto você quer gastar do seu patrimônio ou do patrimônio social da coletividade para continuar vivo. E infelizmente, ou felizmente, o Estado não pode nem tem os recursos para cuidar da longevidade de todos ao limite máximo que todos nós desejaríamos. Quem vai ter que decidir isto é você e sua família, não o Ministério da Saúde.

Obama está neste momento decretando mais uma falência dos Estados Unidos, oferecendo seguro saúde para 40 milhões de americanos, para poder se eleger. Aí falam mal do Bolsa Família.

Várias pessoas responsáveis já discutiram com seus médicos um limite fixo nestes gastos, para não comprometer as finanças da família num coma prolongado, por exemplo. Curiosamente, nem temos legislação que permita fazer isto.

Médicos têm a responsabilidade legal de manter todos vivos, custe o que custar, outra razão para os problemas atuais dos médicos e da medicina em geral.

Não há dinheiro suficiente no mundo para manter toda a população viva para sempre, nem privado muito menos público. Esta verdade tem de ser disseminada, uma realidade cruel, mas a realidade atual está sendo mais cruel ainda, porque ela é injusta.

Hoje, alguns estão tendo tratamentos que aumentam sua longevidade à custa dos outros que pagam a conta. Estamos diante de uma questão ética de enorme complexidade.

Vejamos: você faz um seguro-saúde privado e descobre que a empresa está gastando fortunas com outros clientes, não para curar doenças e sim para aumentar a longevidade de alguns dos segurados até os 110 anos.

Você porém é jovem, com saúde, e percebe que continuando assim não vai sobrar dinheiro para cuidar de você na velhice. Isto é justo?

Ou então, você descobre que os clientes mais velhos do seguro estão pressionando para trocar fígados e rins deteriorados por simples uso natural o que está tornando o seu seguro-saúde caro demais para o seu bolso. Ingenuamente, as pessoas acham que é o dono da companhia de seguro quem paga todas estas contas, na realidade são os próprios mutuários, ou seja, você.

Por que você deveria pagar esta conta se você só fez um seguro-saúde para cobrir partos, pernas quebradas, bronquites e pneumonias?

Se o governo não definir esta questão terá diante de si uma classe média que irá exigir estes direitos adquiridos ilimitados, bem como teremos dezenas de companhias de seguro falidas sem condições de honrá-los.

Precisamos evitar os erros que outros países já cometeram, como nos Estados Unidos, que têm um Medicare falido com passivo superior a 20 trilhões de dólares, que a nova geração terá de pagar.

Isto será uma mudança brutal de concepção e de expectativa em termos de saúde que exigirá uma enorme campanha educacional. Uma enorme mudança cultural onde clientes e pacientes terão de se conscientizar de que não poderão esperar que tenham assistência médica para combater a natural deterioração do corpo humano.

Quantos de vocês pensaram que longevidade é um item de consumo, e não uma obrigação da companhia de seguro? Quantos de vocês pouparam o suficiente para viver até os 90 com dignidade?

Quando um consumidor compra uma viagem para a Disney, será que ele está sabendo que aquele dinheiro poderia lhe comprar 5 anos de vida? Ninguém nos avisou, e por quê?

Estamos mentindo a nós mesmos ao achar que as companhias de seguro nos manterão vivos diante de tantos avanços da medicina, que vai curando uma doença atrás da outra, algo que ninguém imaginava quando os cálculos atuariais foram feitos.

Saúde e degenerescência do corpo humano são duas questões que requerem duas abordagens econômicas e financeiras diferentes.

Se quisermos salvar vidas dos problemas de saúde, teremos que tirar da equação os problemas de longevidade.

Isto devolverá aos seguros-saúde o seu equilíbrio financeiro, aumentará os salários médicos e reduzirá a guerra de todos para com todos.

Devolverá ao Estado as suas verdadeiras responsabilidades, a de prevenção, vacinas e correção de defeitos genéticos.

Temos poucos anos para mudar toda uma forma de raciocínio construída antes destes maravilhosos avanços da medicina.

Se deixarmos claro que degeneração do corpo é um problema caríssimo de se resolver, a população terá mais preocupação médica, com mais respeito aos problemas como fumo, sedentarismo e obesidade que contribuem no processo de degeneração.

Caso contrário, teremos uma conta impagável, ou pior, teremos empresários ou governos decidindo quem vai viver e quem vai morrer. Algo inadmissível numa democracia e num estado de direito.

•Mestre em Administração de Empresas pela Harvard University, foi professor Titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.
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